Os economistas têm dito que existem três requisitos para o país sair da crise: recuperar a confiança, aumentar os investimentos, elevar as exportações. Os números mostram que isso não começou a acontecer. As exportações e os investimentos despencaram no primeiro semestre, a confiança está nos níveis mais baixos em várias sondagens, a bolsa de valores voltou ao vermelho.
O saldo comercial foi positivo em US$ 2,2 bilhões no primeiro semestre, revertendo o déficit de US$ 2,5 bilhões do mesmo período do ano passado. Mas esse número dá uma falsa sensação de que as nossas exportações estão se recuperando. O fato é que as vendas externas caíram 14% de janeiro a junho, e o saldo só ficou positivo porque as importações despencaram mais: 18%. Nem a desvalorização do real ajudou a dar um impulso externo, pelo menos até agora. De janeiro a junho, a receita com exportação foi US$ 16 bilhões menor do que no mesmo período de 2014.
A indústria brasileira continua encolhendo sua participação no mundo. A exportação de bens de capital caiu 3,8% no semestre. A de bens de consumo teve queda de 8,8%. A venda de combustíveis e lubrificantes caiu 20%, mostrando mais uma vez que a Petrobras tem gargalos insuperáveis na área de refino, que foram agravados pelas denúncias de corrupção e superfaturamento em projetos investigados pela Operação Lava-Jato. Com a queda dos preços das commodities, as exportações de produtos alimentícios caíram 16%, e as de produtos minerais recuaram 26%.
A confiança continua baixa, e há vários indicadores mostrando isso. No mercado financeiro, o índice Ibovespa voltou a operar abaixo dos 50 mil pontos e acumula queda este ano. O dólar é negociado no valor mais alto desde 2003. Os juros cobrados dos títulos do governo brasileiro no exterior também subiram, e o mercado já começa a precificar o risco da perda do grau de investimento.
O Índice de Confiança dos Consumidores medido pelo Ibre/FGV caiu à mínima histórica em julho. Foi a quarta vez no ano que atingiu recordes negativos na série que começou a ser pesquisada em setembro de 2005. Desde as eleições de outubro, a redução chega a 19%. Os indicadores de confiança do comércio, da indústria e da construção civil seguem a mesma tendência e se mantêm nos piores níveis das séries.
Nos investimentos, é cada vez menos provável que o governo consiga ser bem sucedido com as concessões de infraestrutura. Com a necessidade de arrecadar mais para manter o ajuste fiscal, o modelo adotado será o de outorga onerosa, contemplando como vencedores os consórcios que desembolsarem uma quantia maior por cada projeto leiloado. Em tempos de crise e incerteza, a reação das empresas é justamente a contrária: preservar o dinheiro em caixa. A alta dos juros também encarece o financiamento.
A produção de bens de capital registra queda de 20% nos cinco primeiros meses do ano, segundo dados do IBGE. Na comparação de maio com o mesmo mês do ano passado, a retração é de 26%. A Abimaq, entidade que representa o setor de máquinas e equipamentos, estima em 25 mil as demissões nos últimos 12 meses e diz que há empresas tendo dificuldade até para pagar impostos. O ajuste fiscal atingiu as linhas subsidiadas do PSI/Finame, que barateava o crédito das encomendas, e a alta da alíquota que desonerava a folha de pagamento foi encarada como aumento de custos. A entidade criou um grupo de gestão de crise e chegou a cogitar o pagamento de impostos em juízo, como forma de protesto, e o fechamento de fábricas por um dia. Abandonou a ideia, felizmente, por recomendação do departamento jurídico.
O país caminha para o oitavo mês do ano sem conseguir vislumbrar de onde virá a recuperação. Tudo é agravado pela crise política e pela baixa popularidade da presidente Dilma Rousseff. Muitos alertaram sobre os erros da política econômica dos governos Lula e Dilma. Foram esses equívocos que nos trouxeram até aqui. O período de bonança, com os altos preços das matérias-primas e o estímulo ao consumo, chegou ao fim sem que o país tenha se preparado para uma nova realidade.
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