O GLOBO - 07/03
A inflação do primeiro trimestre será a pior do ano. Significa que no meio de todas as más notícias que o governo deu aos brasileiros neste início de 2015, e dos conflitos no Congresso, estamos agora atravessando a zona de turbulência. A grande responsável pela inflação do trimestre é a energia elétrica. Os preços administrados chegarão quase a 9,5% só nos primeiros três meses. Irão a 13,5% no ano.
O problema da inflação este ano será principalmente o custo dos erros do governo em 2013, quando os preços administrados ficaram em 1,5%. E agora vão para esses 13,5%, pelos cálculos do economista-chefe do banco Modal, Alexandre de Ázara. No gráfico abaixo, à esquerda, veja como é impressionante este primeiro trimestre: a inflação de janeiro a março ficará em quase 4%, a dos preços que o governo decide ficará em 9,46%, sendo que mais da metade dessa alta corresponde à energia elétrica.
O professor Luiz Roberto Cunha disse ao blog que a inflação de fevereiro será de 1,1%, continua pressionada em março, mas em abril começa a cair. Mesmo assim, acredita que a taxa de 2014 deverá ficar em 7,5%. Alexandre de Ázara acha que pode terminar em 8%.
A alta da energia foi decidida quando o governo errou no passado, portanto, ela não será controlada pelo aumento dos juros. Contudo, com uma taxa tão alta, o Banco Central tem que elevar a Selic para evitar a contaminação de outros preços.
O dólar sobe por uma série de motivos e acaba sendo também mais uma pressão inflacionária. Ele aumenta pela incerteza em relação ao destino do ajuste fiscal no Congresso, onde o PT se afasta da presidente por discordar das medidas, e o PMDB, porque se sente desprestigiado pelo estilo solitário de tomada de decisões da presidente. Os líderes das duas Casas tentam sobreviver à inclusão na lista de Janot. Um começo de ano para ninguém se queixar de tédio.
- Eu não acho que os presidentes da Câmara e do Senado estão retaliando o governo, acho que eles estão numa estratégia de sobrevivência. Eles precisam da presidente fraca. Porque PT e PMDB ou se salvam juntos ou morrem juntos - disse o cientista político Carlos Pereira, da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Na economia se luta também para evitar o pior, que seria o rebaixamento da nota do Brasil.
- Eu não acho que haja inclinação agora das agências de rebaixar o Brasil, mas se houver uma saída do ministro Joaquim Levy, por exemplo, haveria mais risco - disse Ázara, no programa da Globonews.
O mercado financeiro projetava o dólar em R$ 2,91 em dezembro deste ano. Mas as incertezas políticas fizeram a moeda americana superar a casa de R$ 3,00 já esta semana. Essa era a taxa de câmbio projetada para dezembro de 2016. Já chegamos a esse valor.
Tudo é muito delicado na conjuntura econômica brasileira. O que poderia atrapalhar aconteceu. O país vive um ambiente recessivo, inflação alta, juros subindo, dólar, também, rombo nas contas públicas, conflitos no Congresso, crise na nossa maior empresa, um escândalo sendo investigado que pega importantes lideranças políticas, e a base política rebelada contra a presidente. Todos os brasileiros podem reclamar da conta de luz, da alta da inflação, da desordem nas contas públicas, exceto a presidente da República, já que a confusão foi em grande parte contratada por ela.
O que os economistas dizem para acalmar é que na inflação os outros trimestres serão mais baixos. Mas admitem que, no geral, a economia terá que piorar antes de melhorar.
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