O GLOBO - 10/02
O Brasil caminha para a recessão porque o governo cometeu sucessivos erros. Aumentou os gastos e produziu um enorme déficit; reprimiu tarifas; ignorou os alertas sobre a crise elétrica, permitindo que as empresas pegassem empréstimos para repassar aos preços. Agora é a hora do ajuste: a inflação subiu, a crise elétrica se agravou e os gastos têm que ser cortados.
Os problemas que o país enfrentará este ano não foram culpa do mundo. São crises feitas aqui mesmo. Para piorar, os governos estaduais, principalmente o de São Paulo, cometeram o mesmo erro de adiar as medidas que tinham que ter tomadas para mitigar os efeitos da seca. Agora, a economia já enfraquecida terá que enfrentar dois racionamentos: de água e energia.
A política industrial falhou completamente no primeiro mandato da presidente Dilma. E falhou porque estava errada e desatualizada. No ano em que o governo gastou R$ 104 bilhões em desoneração, a indústria teve um tombo de 3,2%. Só é comparável com o ano da crise de 2009. A queda é tal que contamina o ano de 2015, em que a indústria já começa lá em baixo, tendo que refazer o caminho da volta.
A queda não foi um fato isolado. A situação da indústria é dramática há bastante tempo. Nos últimos seis anos, foram três períodos de queda e três de alta. Em 2011, houve um raquítico crescimento de 0,4%, seguido de um tombo de 2,3%, em 2012. Em 2013, alta de 2,1%, e agora a retração de 3,2%. A produção está num nível 8% menor do que em setembro de 2008 quando começou a crise financeira internacional.
O governo apostou nos subsídios e redução de impostos. As medidas não funcionaram e causaram distorções como os rombos nas contas públicas. O setor de veículos automotores, reboques e carrocerias - tão beneficiado pelo governo, com redução de impostos, restrição a importados e estímulo ao crédito - terminou o ano com uma retração de 16,8% no ano passado, pelos números do IBGE. Foi o que mais caiu.
O Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) acha que há "risco de colapso nos investimentos". A retração nos investimentos ocorre há três trimestres seguidos na indústria, como mostram os números da produção de bens de capital.
Os dados da Abimaq, entidade que representa a indústria que produz máquinas e equipamentos, já mostravam que o ano havia sido ruim para o investimento. Houve queda de 15% no consumo aparente de máquinas (consumo da produção interna mais as importações) e fechamento de 12 mil postos de trabalho de janeiro da dezembro.
Pelas contas da consultoria Rosenberg Associados, caso a indústria não encolha mais e mantenha o mesmo nível de produção de dezembro ao longo de todos os meses deste ano, ela fecharia 2015 com retração de 4,1%. É o chamado carregamento estatístico, que este ano será negativo.
Os bancos e consultorias ouvidos pelo Banco Central projetaram ontem crescimento zero para o PIB este ano. E várias instituições estão prevendo queda de 0,5%. A MB Associados está com a previsão de um PIB negativo de 1%, a mesma calculada por Alexandre de Ázara, sócio e economista-chefe do Banco Modal, que ainda estima inflação de 7,9%. Na produção industrial, os números estão sendo revistos para baixo há cinco semanas seguidas pelo mercado financeiro, com a ameaça cada vez maior do tarifaço e do racionamento de energia. Há um mês, a projeção era de alta de 1%.
Ao mesmo tempo em que o consumo interno perde força, o crescimento industrial pela exportação é pouco provável, mesmo com a desvalorização do real. O país não fez acordos comerciais nos últimos anos e ficou dependente da venda de produtos manufaturados para o Mercosul. Os argentinos são os principais compradores e estão em crise cambial, subindo barreiras comerciais e atrasando pagamentos a seus fornecedores.
O governo colhe agora o que plantou. O problema é que quem paga pela má colheita somos nós. A alta da inflação, o tarifaço de energia, a alta dos juros vão retirar renda das famílias. A administração errática da presidente Dilma produziu queda de confiança em todos os segmentos empresariais. E agora pesa sobre as famílias e as firmas o risco do racionamento de energia.
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