FOLHA DE SP - 19/02
SÃO PAULO - Convidado pela administração Fernando Haddad (PT) para fazer a curadoria da grafitagem nos chamados "arcos do Jânio", o artista plástico Rui Amaral escreveu em artigo na Folha que iniciativas como essa ajudam a "construir uma cidade mais humana, democrática e divertida" e contribuem para melhorar a "qualidade de vida".
Os leitores mais sensíveis talvez tenham conseguido captar a mensagem do curador, mas é difícil entender como a imagem do comandante Hugo Chávez (ou, vá lá, de um sósia dele) num patrimônio histórico tombado pode ajudar a tornar São Paulo uma cidade mais humana, democrática e divertida.
A explicação talvez esteja no modo como foram selecionados os artistas para o projeto de grafitagem da prefeitura paulistana. Não houve concurso público, não houve edital, nada nem parecido com isso. A escolha foi totalmente pessoal, sem apresentação de critérios, bem de acordo com o modelo chavista de democracia.
Mais complicado ainda é compreender o conceito de qualidade de vida da turma de Haddad, afinal, na prefeitura, tudo parece girar em torno do banquinho de uma bicicleta.
Antes de cometerem a pintura no bem tombado, os grafiteiros foram convidados pela prefeitura para participar de uma grande bicicletada, que saiu do parque Ibirapuera e terminou numa festa de confraternização regada a chopp e churrasco nos arcos do Jânio. Um "dia inesquecível", como definiu o curador.
Ao mesmo tempo, a prefeitura não tem disponibilizado veículos para os agentes do município realizarem o trabalho de prevenção da dengue na zona norte, a região mais afetada pela doença na cidade (4,9 casos para cada 100 mil habitantes). Os 60 agentes dispõem de apenas dois carros.
O motivo deve ser a tal concepção de Haddad sobre qualidade de vida. Afinal, como todo mundo sabe, automóvel faz mal para a saúde porque estimula o sedentarismo...
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