segunda-feira, dezembro 29, 2014

Panetones, cosméticos e a institucionalização da irresponsabilidade - JOÃO ALFREDO LOPES NYEGRAY

GAZETA DO POVO - PR

Após acaloradas discussões, o Congresso Nacional aprovou o projeto de lei que autoriza o governo a fechar o ano com as contas no vermelho. A mensagem de tal aprovação parece ser: responsabilidade fiscal passa longe, e a lei só deve ser respeitada quando favorável ao governo. O preço dessa votação? Cerca de R$ 444 milhões, através da mesada de R$ 748 mil de que cada parlamentar passa a dispor. Paralelamente a esse absurdo, entrava na pauta de discussões do Congresso o aumento do salário de seus membros, aprovado pouco antes do Natal. Aparentemente, os atuais R$ 26,7 mil, além das verbas indenizatórias, não são suficientes a nossos nobres representantes.

Enquanto de um lado o governo não consegue pagar suas próprias contas, do outro aumenta os próprios gastos. Por causa dessa irracionalidade financeira, volta à pauta o aumento dos impostos, ainda que já sejamos o país que mais os paga, ainda que nosso governo seja o que mais arrecada. A nova equipe econômica avalia, além do retorno da Cide (a contribuição sobre os combustíveis), o aumento do PIS/Cofins sobre produtos importados e também o aumento da tributação sobre os cosméticos. É impossível não lembrar do pensamento de Adam Smith, que nos fala que os “impostos que visem a prevenir, ou mesmo diminuir a importação são evidentemente tão destrutivos das rendas alfandegárias quanto da liberdade de comércio”.

E assim, para sustentarmos um governo que não consegue ou não sabe administrar o imenso montante que arrecada, sufocamos nossos próprios gastos. Talvez por isso o consumo das famílias tenha tido a maior queda desde 2008. Os panetones, um dos vários símbolos da época natalina, ficam mais caros ano após ano. De acordo com dados divulgados semanas atrás, o panetone brasileiro é mais barato no Japão do que aqui. Mesmo com a ida do produto ao outro lado do mundo, ainda assim é mais barato lá. Mesmo sendo, para os japoneses, um produto importado.

Há cerca de dois ou três meses, foi divulgada na mídia uma comparação entre Brasil e Azerbaijão. Por mais que o país asiático conste apenas como a 75ª economia, sua inflação é de 2,4%, a taxa de juros está em 3,5% e o PIB encerrará o ano com crescimento de 2,4%, o que fecha os últimos dez anos com crescimento acumulado de 182%, contra apenas 25% do Brasil. Se o governo já importou médicos de Cuba, que tal importar também uma nova equipe econômica do Azerbaijão?

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