FOLHA DE SP - 09/12
Preços em queda forçam governo Dilma Rousseff a rever estratégia equivocada para explorar o pré-sal, sob risco de quebrar a Petrobras
O mercado internacional ainda não se refez do atordoamento com a queda no preço do petróleo de 35% em quatro meses. De cerca de US$ 100 o barril em julho, patamar que vigorava desde 2011, o valor recuou para menos de US$ 70.
A retração acentuada parece derivar da confluência de redução do ritmo de crescimento do consumo global com o persistente aumento da oferta por fontes não convencionais, em especial nos EUA.
O consumo perde força pela falta de dinamismo da economia, mas também pela maior eficiência no uso do petróleo, causada, por sua vez, pelos preços elevados.
A Agência Internacional de Energia estima que a oferta de petróleo e gás natural liquefeito por parte de países não membros da Opep crescerá 10% entre 2013 e 2020, atingindo 56,1 milhões de barris/dia.
Nos últimos anos o avanço tecnológico nos EUA permitiu a exploração de reservas antes inviáveis, como as de gás de xisto, o que elevou a produção em 4 milhões de barris/dia. Estima-se que o país possa tornar-se autossuficiente em energia dentro de poucos anos.
Também tem contribuído a produção normalizada em regiões de conturbação, como a Líbia, e a falta de acordo entre os membros da Opep para cortar a oferta. Alguns, como a Arábia Saudita, ao que parece, querem testar os limites de baixa para expulsar do mercado os produtores com custos maiores.
Analistas já preveem que o preço baixo pode perdurar. Isso contribuiria para conter a inflação mundial e para redistribuir renda em favor de importadores, especialmente Europa e China, com estímulo da atividade nessas regiões.
Já nações exportadoras passarão por momentos difíceis, em particular as que dependem dessas receitas para financiar gastos do governo, como Irã, Venezuela e Rússia.
Para o Brasil impõe-se uma análise cuidadosa dos impactos na Petrobras. Os erros estratégicos do governo em sobrecarregá-la com a exploração monopolista do pré-sal podem acarretar graves problemas.
A Petrobras executa o maior programa de investimentos do mundo, de US$ 220 bilhões entre 2014 e 2018. Está obrigada a operar todos os campos petrolíferos, com uma participação mínima de 30%.
Quando o pré-sal foi descoberto, na década passada, estimava-se que a extração só seria lucrativa com o preço do barril acima de US$ 70. Qual seria o patamar hoje, depois das explosões de custos?
A dívida da estatal já chega aos US$ 240 bilhões, equivalente a cerca de quatro vezes o chamado Ebitda (indicador da capacidade de geração de caixa). Não por acaso, as agências de classificação de risco têm reduzido a nota de crédito da Petrobras, que pode perder o grau de investimento em breve.
Se o preço baixo permanecer, e se o governo não quiser quebrar a empresa, precisará repensar a estratégia. Rever planos de investimento, abrir a exploração para mais parceiros --quem virá, nesta altura?-- e elevar preços internos de combustíveis para recompor o caixa são pontos cruciais.
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