Sem o apelo popular do controle da inflação, a questão cambial é menos observada pela maioria dos brasileiros, embora sua importância para o dia a dia das pessoas tenha igual ou até maior importância. Agora que já se sabe quem governará o país nos próximos quatro anos, importa saber, o quanto antes, que política econômica será adotada e quem vai dirigi-la (ministro da Fazenda e presidente do Banco Central).
Como a presidente adiou o anúncio do novo ministério, a dúvida e as fantasias em torno da escalação vão continuar por mais algumas semanas. Mas essa não é a única incerteza que domina o mercado e os especialistas. De todos os cenários, o do futuro próximo do câmbio é o mais nebuloso e seria um alívio saber, pelo menos, quem vai cuidar dessa delicada perna do tripé macroeconômico (as metas de inflação e o superavit fiscal são as outras duas).
Razões não faltam para isso. A primeira delas é o elevado nível de inserção dos produtos importados na economia brasileira, tanto para o consumo quanto na forma de insumos industriais, ou seja, qualquer alteração na taxa cambial tem, hoje, muito mais impacto do que em anos passados. E a má notícia é que a tendência é de valorização do dólar em relação a todas as moedas e, em particular, ao real.
Essa percepção não é assim tão recente. O que há são sinais claros de aceleração da valorização da moeda norte-americana. Embora a recuperação da maior economia do mundo não tenha sido suficiente para evitar a acachapante derrota do presidente democrata Barack Obama nas eleições da semana passada, foi o bastante para levar o Federal Reserve (o banco central de lá) a iniciar mudança de grande repercussão sobre as economias e as moedas do mundo.
O primeiro passo foi encerrar o quantitative easing, política de injetar dólares nas veias do mercado local para garantir a oferta de crédito e estimular a economia. O passo seguinte será iniciar movimento de elevação das taxas de remuneração dos títulos do Tesouro (atualmente muito próximas de zero), o que geralmente funciona como sorvedouro das poupanças do mundo, ou seja, o dólar vai ficar mais escasso no mundo, e a oferta de crédito no mercado internacional será menor. Resultados: dólar mais valorizado e juros mais altos para o financiamento a outros países.
No Brasil, o Banco Central vem mantendo desde agosto de 2013 a disponibilidade semanal de dólares no formato de swaps cambiais, como forma de garantir hedge ao crédito das empresas que negociam com o exterior. Tem sido uma intervenção sofisticada e razoavelmente eficiente no câmbio flutuante. Mas a conta já bateu nos US$ 100 bilhões a custo elevado para o país e muitos especialistas detectam a saturação do esquema, apontando a necessidade de repensá-lo. Isso será feito? Como? É mais uma pilha de incertezas.
Por fim, ainda não há motivo para afastar a hipótese de as agências de rating retirarem do Brasil o grau de investimento, por falhas na gestão das contas públicas. Esse pode ser mais um grave fator adverso à nossa necessidade de financiar o deficit em conta corrente de mais de US$ 80 bilhões por ano e de bancar pesados investimentos inadiáveis em infraestrutura. São heranças do primeiro mandato que a presidente terá de enfrentar no segundo. Melhor será que tenha sucesso.
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