sábado, outubro 25, 2014

A cultura da corrupção - EDITORIAL ZERO HORA



ZERO HORA - 25/10

Casos de desvio de dinheiro público, antigos e recentes, dominaram os debates eleitorais na campanha presidencial que está terminando e também em algumas disputas estaduais. Candidatos e partidos políticos procuraram sempre evidenciar os malfeitos de seus adversários, mas poucos foram capazes de reconhecer que o modelo político do país, que eles próprios fazem questão de manter inalterado, é o principal fator gerador da corrupção. Enquanto vigorar um sistema que conjuga deformações institucionalizadas _ entre as quais alianças partidárias aberrantes para sustentar o presidencialismo de coalizão, loteamento da administração pública como compensação para o apoio político, financiamento de campanhas políticas por empresas que fazem negócios com o governo e proliferação desenfreada de partidos sem qualquer identidade programática _ todos os discursos moralizadores serão inconsequentes.
Superada a atual campanha eleitoral, que já está sendo apontada como uma das mais agressivas da história republicana, o país tem que parar para refletir e para repensar o seu fazer político. Parcela significativa da população brasileira sai desse momento triste verdadeiramente enojada com a política, tal foi o festival de acusações, denúncias e ofensas entre os candidatos nos espaços públicos e entre os eleitores nas redes sociais. A chamada estratégia da desconstrução acabou desconstruindo um pouco mais a confiança do povo nos seus representantes.
Como alterar esse estado de coisas? Já está evidente que não basta defender e sonhar com a esperada reforma política, que não vem nunca porque os beneficiários do atual sistema são os primeiros a boicotá-la no Congresso. Constituinte exclusiva, como querem algumas lideranças respeitáveis, é uma alternativa tão anômala, que implica riscos à democracia. Então, não resta outra saída a não ser a aplicação rigorosa da legislação já existente para punir infratores e a criação de novos mecanismos preventivos que aumentem a transparência na administração pública.
Corrupção se combate com o exercício diário e permanente da ética. Simples assim, desde que se convencione que não há ética pela metade, nem ética exclusiva e muito menos ética adaptada ao gosto de quem ocupa o poder.

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