A presidente Dilma Rousseff parece que só pega no tranco. Ao que tudo indica, foi preciso que o seu criador, Luiz Inácio Lula da Silva, desse enfáticos sinais de que se cansara de aconselhá-la a se achegar ao empresariado que quer vê-la pelas costas para a criatura se tocar. Até ele, o do "nunca antes neste país", já há tempos via com clareza e crescente desconforto a sua recusa ao imperativo eleitoral de mudar o disco arranhado dos seus êxitos na gestão da política econômica - limitados, na narrativa dilmista, apenas pela "crise externa" e negados apenas pelo "pessimismo" desinformado ou de má-fé.
Finalmente, a realidade conteve a soberba. E, pela primeira vez, a candidata admitiu que a economia brasileira anda devagar, quase parando. "Eu gostaria que o Brasil estivesse crescendo num ritmo mais acelerado", disse, ao discursar anteontem em um evento da Confederação Nacional da Indústria (CNI), em Belo Horizonte. E pela primeira vez também fez uma promessa diferente da modalidade mais do mesmo para o segundo mandato que um dia, não faz muito, ela imaginava conquistar de uma tacada só. "Obviamente, novo governo, novas e necessariamente atualização (sic) das políticas e das equipes", enunciou, como quem declara que o prazo de validade do economista Guido Mantega no Ministério da Fazenda expira em 31 de dezembro, ainda que o dela vá até 1.º de janeiro de 2019.
Obviamente, como ela diria, não há como saber se acredita no que disse - ou melhor, se, acreditando, terá a determinação e a competência para não repetir, caso as urnas lhe derem uma segunda chance, a coleção de erros que esfiaparam a sua credibilidade a ponto de 8 em cada 10 eleitores desejarem mudanças na condução do governo. Desde logo, porém, é de recear que a "atualização" venha a ser tão trôpega como o fraseado a que ela recorreu para formulá-la, no pedregoso português que é um de seus vícios insanáveis. O outro, de que não consegue se livrar nem quando se trata de ganhar votos, como se viu nos debates pela televisão, é a mistura de enfado e impaciência que exibe diante de opiniões que não ecoam as suas próprias. Isso importa porque tal característica de personalidade, a julgar por estes quatro anos que se aproximam do fim, condiciona a sua conduta e pesa nas suas decisões como presidente da República.
A Dilma confeccionada em estúdio, para figurar no horário eleitoral, é outra coisa. Assim também o Brasil que desfila ao longo dos 11 minutos ao seu dispor duas vezes por dia, três vezes por semana, graças à opulenta coligação de nove partidos que os recursos de poder do Planalto lhe permitiram arregimentar. "Hollywoodiano" foi como a rival Marina Silva qualificou o País da propaganda dilmista - sem contar os dois dentes frontais que a afortunada sertaneja Marinalva Gomes Filha ganhou, além de um upgrade no fogão a lenha, para aparecer "produzida" ao lado da presidente. Ela pode maquiar os fatos, mas os seus críticos não podem brigar com eles. Os mais recentes desta campanha sucessória marcada indelevelmente pelo imponderável sugerem que está dando resultados o embelezamento publicitário da paisagem social brasileira e do desempenho do "poste" que Lula fincou em Brasília há quatro anos.
As novas pesquisas do Ibope e do Datafolha indicam que o bastião de Dilma resistiu à primeira arremetida do "furacão Marina". Dizia-se há pouco que a sua ascensão teria gás para prosseguir pelo menos até o primeiro turno, dado o tempo presumivelmente escasso entre a irrupção de seu nome e a inevitável estabilização de sua popularidade. Os números de agora põem em xeque o prognóstico. No Ibope, os quatro pontos ganhos por Marina desde a sondagem anterior foram neutralizados pelos três da presidente, que assim manteve a liderança, embora no limite da margem de erro. No Datafolha, continuam empatadas. A presidente, por sinal, parece ter mais eleitores convictos (61% das intenções declaradas) do que a oponente (50%). O seu pesadelo é o segundo turno: entra pesquisa, sai pesquisa, Marina segue favorita. E ela, Marina, com o seu voluntarismo, parece crer que ganhar a eleição é um fim em si - e não a condição necessária, porém insuficiente, para governar.
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