Em busca de aprovação, candidatos à Presidência preferem a vagueza, mas ensaiam objetividade em evento do setor agropecuário
No ritual de tentar agradar os pesos pesados da economia nacional, os três principais candidatos a presidente têm se equilibrado entre a necessidade de apresentar propostas concretas, de um lado, e a de manter certo grau de abstração, evitando o compromisso com medidas impopulares, de outro.
No encontro organizado nesta semana pela CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), o roteiro se repetiu, ainda que com pequenas variações.
Procurando responder aos anseios do setor, a presidente Dilma Rousseff (PT), o senador Aécio Neves (PSDB) e o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB) ensaiaram alguma objetividade, mas não abandonaram a vagueza em suas declarações.
A CNA divulgou um documento de reivindicações como preparação para a sabatina. Além das tradicionais demandas na área de crédito, logística e armazenagem de safra, as maiores preocupações dizem respeito ao ambiente de negócios.
São três frentes, na visão dos produtores. A insegurança jurídica, que seria ocasionada pelas invasões de propriedades e pela falta de clareza nas demarcações de terras indígenas, as relações de trabalho, sobretudo quanto à possibilidade de contratar mão de obra terceirizada para atividades como colheita, e a legislação ambiental.
Dilma manteve-se protocolar. Prometeu mais do mesmo no apoio à produção e melhores critérios em relação às reservas. Na questão trabalhista, afirmou apenas que terceirizar não significa necessariamente precarizar. Se teve um mérito, foi o de defender o fortalecimento de uma classe média rural, fugindo à simplificação dicotômica grandes x pequenos produtores.
Dos três candidatos, apenas Aécio teve o cuidado de dedicar-se a cada um dos pontos apresentados pela CNA. Nem por isso deixou de ser vago; prometeu, por exemplo, um genérico "superministério da Agricultura", que englobaria a pasta da Pesca e teria autonomia em relação à Fazenda para elaborar políticas financeiras para o setor.
Disse ainda que expandiria a cobertura do seguro agrícola e a capacidade de armazenagem da safra. Alinhou-se, ademais, à pauta da CNA ao afirmar que a demarcação de terras indígenas deixará de ser atribuição exclusiva da Fundação Nacional do Índio (Funai).
Assim como o tucano, Campos foi bem recebido --apesar das conhecidas objeções do setor às posições de Marina Silva, vice na chapa do pernambucano. O ex-governador fez as referências de praxe à necessidade de a produção agrícola ser ambientalmente sustentável.
Em meio às platitudes, porém, surgem, nesse tipo de evento, aspectos que permitem distinguir uma candidatura de outra. Melhor, desse ponto de vista, que a campanha seja bastante acirrada. Se nenhum candidato estiver confortável num patamar muito mais alto de intenções de voto, o eleitor terá a oportunidade de fundamentar melhor sua escolha.
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