Clubes endividados, estrutura defasada, falta de organização, êxodo de jovens talentos são evidências de uma realidade que reclama reformas radicais
Do time do Fluminense que há apenas dois anos conquistou o Brasileirão, cinco jogadores já não estão no clube. Apenas dois foram formados em Xerém. Ano passado, o Flamengo ganhou a Copa do Brasil com uma equipe que também foi desmontada, igualmente parca de talentos feitos em casa. Já da formação do Vasco campeã da Copa do Brasil em 2011, não sobrou um único nome em São Januário (que levava só uma ligeira vantagem sobre os rivais no total de jogadores saídos da base).
A estes números, pelos quais respondem três grandes clubes do Rio, mas que não diferem da grande maioria das equipes brasileiras, soma-se o que, longe de ser uma curiosidade, evidencia uma preocupante tendência: da lista de 22 jogadores com idade olímpica divulgada pelo técnico Alexandre Gallo para disputar amistosos no Catar, metade joga em times estrangeiros. Ou seja, jovens com menos de 21 anos, pinçados das divisões de base de clubes brasileiros, saíram do país e destacam-se lá fora sem que aqui tenham disputado um único jogo como profissionais.
São exemplos que, conjunturalmente, ajudam a explicar a pífia participação da seleção na recente Copa. Mais do que isso, fornecem preocupantes indicações sobre as raízes da debacle estrutural — que se reflete em graves falhas de organização — do futebol brasileiro. No país pentacampeão do mundo, os grandes clubes desmontam equipes vitoriosas logo após a conquista de títulos importantes. Perde-se a identidade do atleta com a agremiação, e jovens talentos, mal despontam nas divisões de base, vão brilhar no exterior por absoluta impossibilidade de o mercado nacional competir com outras praças, mais bem organizadas, rentáveis e que promovem competições bem sucedidas em público e finanças.
Como se chegou a tal encruzilhada, não chega a ser um mistério: clubes mal administrados, dirigentes que os tratam como feudos ou extensão de seus negócios particulares (inclusive políticos), desatenção, enfim, com os princípios da organização. Como resultado, as agremiações, responsáveis pela formação dos atletas, estão afundando numa dívida bilionária, e negociam seus talentos, cada vez mais jovens, para pagar contas do mês — algo como vender o almoço para pagar o jantar.
Reportagem do GLOBO de domingo passado mostrou como os clubes, além de gramarem uma situação financeira insustentável, não se adequaram aos novos tempos. Os olheiros de ontem hoje atuam como caça-talentos, dos quais se exige mais do que jogar futebol. Acena-se a garotos de 14, 15 anos com a possibilidade de fazer fortuna em outro país antes de completarem 20 anos, muitas vezes um canto da sereia, mas uma realidade para a qual o Brasil não pode simplesmente fechar os olhos. Como se vê, os 7 a 1 da Alemanha não foram um desastre pontual; a humilhação na Copa talvez tenha sido o sinal mais forte de que há muito o que mudar nos campos do país.
Por este cenário é que se requer a aprovação da Lei de Responsabilidade do Esporte.
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