FOLHA DE SP - 03/07
Setor manufatureiro recua pela terceira vez seguida e aumenta lista de sinais de que a economia brasileira está na direção errada
Apesar de todos os pacotes de estímulo do governo federal, reafirmam-se, a cada novo indicador divulgado, as previsões de que este será um ano bastante ruim para a economia brasileira --mais um. A bola da vez é o setor industrial, cuja produção teve, em maio, o terceiro recuo consecutivo.
A queda foi de 0,6% na comparação com abril, com destaque negativo para os bens de consumo duráveis e áreas ligadas a investimentos. Estima-se que, ao final deste 2014, a indústria terá encolhido pelo menos 2%, fruto, entre outros motivos, do crescente desalento percebido entre empresários e consumidores.
A situação é particularmente adversa no ramo automotivo, que registrou no primeiro semestre o pior volume de vendas desde 2010. Parte desse quadro se deve, sem dúvida, à interrupção de negócios alheios à Copa do Mundo, mas a expectativa para o restante do ano também é desanimadora.
Os estoques permanecem excessivos, no maior patamar desde 2008. Até o fim de maio havia 400 mil veículos nos pátios, o equivalente a 40 dias de vendas.
As montadoras reagem generalizando férias coletivas para um maior número de fábricas. Desde o início do ano, cortaram-se 4.700 postos de trabalho --ou quase o dobro, se contar os fornecedores.
Aparecem evidências das dificuldades da indústria também nas vendas de bens manufaturados para o exterior. Os produtos básicos responderam, no primeiro semestre, por 50,8% do total de exportações, a maior fatia desde 1980.
Embora seja cômodo atribuir o resultado à situação desfavorável da economia mundial, a verdade é bem menos conveniente: trata-se da incapacidade da indústria brasileira de participar de forma ativa da competição global. Hoje resta apenas a defesa do mercado interno, estratégia reforçada pelas ações protecionistas do governo Dilma Rousseff (PT).
Ocorre que esse caminho se mostrará um beco sem saída. No mundo das grandes cadeias de valor, criadas e geridas pelas principais empresas globais, não há competitividade possível se não houver integração e especialização.
A prostração da indústria não se resolverá com o crescimento da demanda mundial. Quando isso ocorrer, não haverá exportadores para aproveitar a oportunidade. E a procura interna, mesmo que vigorosa, será cada vez mais atendida pelas importações.
As políticas industrial e de vendas internacionais precisam ser repensadas com vistas a reconectar o Brasil ao comércio mundial. O governo atual, entretanto, insiste na direção oposta --e os resultados mostram como tem sido um erro.
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