A inflação em alta não é um problema menor, como pensaram muitos economistas do governo ao dar corda para uma de suas causas mais importantes: o aumento do gasto público, refletido na necessidade de arranjos contábeis para diminuir a má impressão do balanço fiscal. No papel de contribuinte ou de consumidor, o cidadão comum sempre acaba ficando com a pior parte.
Ontem, o Banco Central (não se trata, portanto, de um pessimista qualquer) deu mais uma notícia ruim. Os juros do crédito para as pessoas físicas subiram em junho pelo sexto mês seguido. Passaram para 43% ao ano, uma alta de 0,5 ponto percentual sobre os 42,5% que eram cobrados em maio. É a mais alta em três anos. O aumento ocorreu justamente em uma passagem de mês sem elevação da taxa básica de juros (Selic) pelo BC, que a manteve em 11%. E mais: também em junho, a inadimplência (um dos fatores que pesam na definição das taxas de juros na ponta do tomador) tinha parado de subir, registrando pequeno recuo de 0,2 ponto percentual em relação ao mês anterior.
O que, então, teria levado os bancos a aumentar o spread? (diferença entre o que os bancos pagam pelo dinheiro dos investidores e o que cobram dos que tomam empréstimos e financiamentos). A primeira referência continua sendo a Selic. Ou seja, o custo do dinheiro para o tomador, principalmente a pessoa física, ainda passa por processo de acomodação, resultante do aperto na política monetária, que, em 12 meses, empurrou escada acima a taxa de 7,25% ao ano para a atual, de 11%.
Mas não é só isso. Tão perversa quanto a inflação em alta (em junho, enquanto o BC mantinha a Selic, o IPCA havia ultrapassado o teto de 6,5% da meta prevista para 2014) é a queda na confiança de que o governo - e não só o Banco Central - vai agir para conter a corrida dos preços. Além do dever de casa atrasado com a administração do orçamento fiscal, convém lembrar que há impactos na energia elétrica e na gasolina acomodados sob o tapete de um tempo que já dura mais do que deveria.
E a inflação alta, com perspectiva de continuar como está, sinaliza que mais apertos monetários poderão vir, o que pesa nos contratos de juros, que agora são firmados, para durar um ano ou mais. É certo que nada disso encobre ou perdoa o oportunismo dos bancos, que se aproveitam do cenário de incertezas para aumentar suas margens de ganho. Mas não foram eles que sujaram a água.
O outro lado da moeda dos juros altos provocados pela necessidade de conter a inflação é a contenção do consumo, quando o consumidor é prudente, ou o aumento da inadimplência, quando é inconsequente. Um esfria a economia, o outro provoca mais aumento nos juros. Ambos acabam participando do movimento de retração que resulta no baixo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e, num segundo estágio, na redução do emprego e da renda. A continuidade ou a mudança dessa situação é a cobrança que não pode faltar aos candidatos ao próximo mandato presidencial.
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