Entre quarta e quinta-feira, a capital paulista viveu um momento em que estiveram presentes os principais elementos responsáveis pelas agruras por que vem passando a população das grandes cidades, sobretudo no que diz respeito às perturbações na circulação e ao clima de medo e apreensão criado por manifestações selvagens. Mistura de greves com política e desafios lançados por grupos aguerridos como o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), todos usando como elemento de chantagem a ameaça de criar o caos durante a Copa do Mundo. E, em vez de enfrentá-los, não está afastado o risco de o governo, mais uma vez, fazer concessões a movimentos ditos sociais que agem ao arrepio da lei.
Os metroviários iniciaram na quinta uma greve por tempo indeterminado, deixando a pé milhões de paulistanos. Não admira que muitos deles tenham reagido com indignação e até violência, como um grupo que promoveu quebra-quebra na Estação Corinthians-Itaquera, aos gritos de "Queremos trabalhar", que mostra bem quem são os prejudicados pelo movimento. O Tribunal Regional do Trabalho (TRT) determinou que 100% da rede seja operada nos horários de pico e 70% nos demais, sob pena de multa de R$ 100 mil por dia ao Sindicato dos Metroviários.
"Desafio o governo do Estado a fazer isso", respondeu o presidente da entidade, Altino Prazeres Júnior. A adesão à greve foi ampla, mas o Metrô funcionou parcialmente, com trens guiados por supervisores de estação e de operação.
Os sinais de que há influência política na greve são muito claros. A começar pelo fato de a proposta de aumento salarial feita pela Companhia do Metrô ser razoável - 8,7%, além de reajuste do vale-refeição de R$ 247 para R$ 290. Ao recusá-la liminarmente, pedindo 16,5%, mas declarando aceitar a volta ao trabalho com uma oferta mínima de 10%, o sindicato demonstra uma má vontade que certamente não se deve apenas a razões salariais.
Não por acaso, líderes de partidos esquerdistas como PSOL e PSTU estiveram entre os incentivadores da greve. Finalmente, em atitude inusitada, alguns maquinistas usaram o sistema de comunicação sonora de trens, um dia antes do início do movimento, para jogar os passageiros contra o governo, dizendo que seria ele o responsável pela paralisação.
A mesma suspeita paira sobre a greve dos marronzinhos da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), que recusaram proposta de aumento de 8%, bem próxima da feita aos metroviários. O prefeito Fernando Haddad, sempre cheio de dedos com os sindicatos e os movimento sociais, deve estar se sentindo traído.
Enquanto as greves pipocam pela cidade, aproveitando a proximidade da Copa, o MTST não dá trégua e agita o mesmo fantasma. No começo da noite de quarta-feira, promoveu passeata que reuniu 12 mil pessoas, segundo a PM. Ela saiu de frente da Estação Vila Matilde do Metrô, interrompeu o trânsito na Radial Leste e chegou depois de duas horas em frente ao Estádio Itaquerão. Num claro recado sobre o que pode fazer ali, onde se realizará o jogo de abertura da Copa dia 12, o MTST ameaçou impedir o acesso de torcedores ao amistoso do Brasil com a Sérvia, hoje, no Estádio do Morumbi, caso o governo federal não dê uma resposta satisfatória a suas reivindicações sobre moradias populares.
Cada vez mais arrogante, o coordenador do MTST, Guilherme Boulos, foi muito claro e firme: "Se o governo quiser pagar para ver, ele vai ver". O governo vem prometendo firmeza e até apelar ao Exército para garantir a ordem pública ameaçada sem rodeios por grupos irresponsáveis como esse. Mas, a julgar pelos antecedentes, Boulos pode ganhar a aposta. No começo de maio, a presidente Dilma Rousseff já cedeu uma vez à pressão do MTST. Pouco antes de uma visita ao Itaquerão, ela se reuniu com representantes daquele movimento, que saíram triunfantes com a promessa de que ele terá acesso ao programa Minha Casa, Minha Vida.
Se ela ceder novamente, neste momento, poderá pagar um preço muito caro.
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