O GLOBO - 04/05
Política econômica de Bogotá baixa inflação, acelera crescimento e atrai investimentos. Já Buenos Aires esbanja gastos, maquia inflação e vê investidor passar ao largo
Colômbia e Argentina trocam farpas. A primeira diz ser agora a segunda economia da América do Sul, depois do Brasil, com um PIB de US$ 369 bilhões, enquanto Buenos Aires sustenta que não foi ultrapassada. Os números variam a depender da fórmula de cálculo — o PIB argentino perde a comparação se não for considerada a taxa de câmbio oficial, artificialmente valorizada. O importante é a tendência clara: de alta no caso da Colômbia, de baixa no da Argentina. Enquanto o governo colombiano adota há anos uma política econômica sólida, com disciplina fiscal e monetária, cujo resultado é uma inflação baixa, o kirchnerismo abraça a heterodoxia, fazendo do Estado ineficiente o grande ator econômico, semeando déficits com políticas populistas, e consequente disparada da inflação. Tratam de maneira diversa o investimento estrangeiro: com receptividade, no caso colombiano, agressivamente no argentino.
A arrancada da Colômbia é tão mais impressionante quando se sabe que ainda luta para encerrar o mais antigo conflito (meio século) da América Latina, com a narcoguerrilha Forças Armadas Revolucionárias (Farc), que chegou muito perto de inviabilizar o país. As Farc dominaram um território de 42 mil quilômetros quadrados cedido pelo presidente Andrés Pastrana (1998-2002) para facilitar uma fracassada negociação. A virada começou no governo Alvaro Uribe (2002-2010) e ganhou força no do atual presidente, Juan Manuel Santos, ex-ministro da Defesa de Uribe e candidato à reeleição no dia 25. O FMI previu para a Colômbia, este ano, inflação de 1,9% — a mais baixa da América Latina —, e um crescimento do PIB de 4,4%, quinto mais elevado na região. O país está entre os quatro maiores receptores de investimentos estrangeiros diretos no continente, com cerca de US$ 16 bilhões em 2012. Isto foi conseguido a partir de acordos de livre comércio com os EUA, Canadá, Chile e Peru — dois últimos, parceiros na Aliança Atlântica —, e ajustes estruturais da economia nas últimas duas décadas. Estes incluíram eliminação de controles cambiais, maior fiscalização do sistema bancário e manutenção de baixos níveis de déficit público.
Não que a Argentina não cresça, sobretudo devido às commodities — grãos — principal produto de exportação. Mas a situação econômico-financeira é difícil. Os investimentos externos são desestimulados pela atuação errática do governo e pelo fato de o país não ter conseguido fechar acordo com todos os credores após a moratória de 2002. Diante das reservas em perigosa baixa e escassez de divisas, Cristina Kirchner recorre à emissão de moeda para financiar os gastos do governo. Com isto, a inflação em 2013 ficou acima de 28%, embora o índice oficial, maquiado, fosse de 10,9%. Mais uma medida polêmica foi a decisão da Casa Rosada de não divulgar estatísticas sobre a indigência e a pobreza no segundo semestre de 2013. Certamente para não admitir seu crescimento. A continuar assim, não haverá dúvidas sobre a ultrapassagem colombiana.
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