O Estado de S.Paulo - 26/05
O governo vai depender mais uma vez de receitas extraordinárias para fechar suas contas e entregar o resultado fiscal prometido para este ano, um superávit primário de R$ 80,8 bilhões no balanço conjunto do Tesouro Nacional, do Banco Central e da Previdência. O superávit primário é o dinheiro separado para o pagamento de uma parte das obrigações da dívida pública.
Sem disposição para economizar e racionalizar os gastos, a equipe econômica tem recorrido, nos últimos anos, a soluções heterodoxas para atingir a meta oficial. Essa disposição é ainda mais duvidosa em ano de eleição. Mas o compromisso tem sido reafirmado. A promessa, no entanto, vai além daqueles R$ 80,8 bilhões. A economia total fixada para o ano, de R$ 99 bilhões, dependerá, segundo o plano original, da contribuição de Estados, municípios e empresas controladas pela União. Se a contribuição efetiva ficar abaixo da programada, a diferença será coberta por um esforço maior das entidades federais, segundo anunciou há meses o ministro da Fazenda, Guido Mantega.
O uso de dinheiro extraordinário para fechar o balanço foi confirmado no relatório de avaliação orçamentária do segundo bimestre, divulgado na quinta-feira pelo Ministério do Planejamento. A cada reavaliação o governo atualiza a programação de receitas e de despesas, com base na evolução recente das contas públicas e nas últimas projeções econômicas. As projeções incluídas no relatório mantêm a perspectiva de crescimento de 2,5% para o Produto Interno Bruto (PIB) e elevam a inflação de 5,3% para 5,6%.
O ritmo da atividade pouco deverá contribuir, portanto, para a geração de receitas. Além disso, a expansão projetada de 2,5% está acima das previsões do mercado, em geral inferiores a 2%, mas esse detalhe é desconsiderado, obviamente, nas estimativas oficiais. A inflação poderá elevar a receita nominal, a curto prazo, mas isso dependerá da confiança de empresários e consumidores, neste momento em deterioração.
Por enquanto, pioram as projeções da receita tributária normal. Diminuíram na segunda revisão os valores previstos para os Impostos de Renda, de Importação e sobre Produtos Industrializados. Aumentou a dependência de recursos extraordinários, mas as contas mostram um resultado final ajustado. O valor estimado para a arrecadação extraordinária de impostos passou de R$ 18,7 bilhões para R$ 30,2 bilhões em todo o ano. O aumento inclui o ganho previsto como resultado de uma reabertura do Refis, o programa de refinanciamento de tributos em atraso.
No ano passado o Refis também foi reaberto - mais uma vez - e os primeiros pagamentos ajudaram a ajeitar as contas de 2013. Em geral, a arrecadação proporcionada por esse programa tende a decrescer em pouco tempo e boa parte das empresas beneficiadas simplesmente deixa de cumprir as obrigações.
As receitas extraordinárias incluem também um bom volume de bônus de concessões de infraestrutura e dividendos de estatais. As estimativas indicam R$ 13,5 bilhões de bônus de concessões e R$ 23,9 bilhões de dividendos.
De janeiro a março, os dividendos, no valor de R$ 5,9 bilhões, foram 667,6% maiores que os de um ano antes. O governo está obviamente cobrando um esforço especial das estatais para ajeitar as contas do Tesouro. No ano passado essa contribuição, somada à receita das concessões, foi fundamental para a apresentação final das contas. O trabalho de maquiagem, também conhecido como contabilidade criativa, foi apontado pela imprensa e por analistas do mercado. Já havia ocorrido no ano anterior e comentários sobre o assunto apareceram na imprensa internacional.
Em resumo: pelo novo relatório de avaliação bimestral, ninguém deve esperar cortes adicionais de despesas nos próximos meses. Além disso, falta o governo esclarecer alguns mistérios. Não há referência, no documento, ao déficit projetado para a Previdência nem ao custo do subsídio às contas de luz. A melhora das contas públicas, têm dito dirigentes do Banco Central, seria uma contribuição importante para o combate à inflação. Eles terão de continuar esperando essa contribuição.
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