FOLHA DE SP - 21/05
SÃO PAULO - O assim chamado capitalismo está longe de ser um sistema perfeito ou mesmo bom, mas ele decerto promove mais eficiência e cria mais riqueza do que todas as alternativas até hoje experimentadas. Só que, para funcionar a contento, ele depende da existência de agentes livres para produzir e consumir o que lhes pareça melhor.
É desta parte que muitos no Brasil ainda não se convenceram. Parcela não desprezível do empresariado e de guildas profissionais, em vez de oferecer produtos e serviços que as pessoas queiram adquirir e contratar, prefere pegar carona na autoridade do Estado e, através de leis e portarias, criar um mercado cativo e sem riscos. É o capitalismo de balcão.
Nesse contexto, só posso aplaudir a decisão do governo Dilma Rousseff de adiar por mais 24 meses a obrigatoriedade de as montadoras incluírem nos veículos novos o tal do rastreador, um chip de localização e bloqueio que pode ser acionado em caso de furto. A engenhoca encarece o carro em cerca de R$ 700. O problema é que, para funcionar, o proprietário precisa contratar os préstimos de uma empresa especializada. Ou seja, a peça gera um ônus para o consumidor e pode não servir-lhe para nada. É muito mais lógico, portanto, que só quem realmente queira o serviço compre o rastreador.
Essa foi mais uma esperteza de fabricantes de chips e seguradoras sancionada pelo Contran, o mesmo Conselho Nacional de Trânsito que, alguns anos atrás, fez todos os donos de carros carregarem um inútil kit de primeiros socorros composto por gaze, luvas e esparadrapo.
O problema, infelizmente, não está limitado a essa esfera. Quem não se lembra do golpe da tomada, pelo qual, numa só canetada, nos fizeram ou trocar todas as tomadas da casa ou adquirir adaptadores? Na mesma linha, sindicatos adoram criar obrigatoriedades que exigem a contratação de um de seus associados. Pobres dos brasileiros.
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