domingo, maio 18, 2014

Brasil mais longe do Conselho de Segurança - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 18/05

Lulopetismo encolheu papel global do país e fez opções que o puseram na contramão da maior parte da comunidade internacional



Um dos objetivos do governo brasileiro, a obtenção de um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU, é meta difícil. Pode-se até discutir sua oportunidade, se pode ser incluída entre objetivos estratégicos do país, embora não se discuta que se trata de um sinal de elevação do status global de qualquer nação.

No continente, o Brasil tem indiscutível peso econômico. No plano político, foi beneficiado por um estilo de diplomacia discreta e conciliatória, mas firme, pela qual conquistou respeito internacional, como desejava seu formulador, o Barão do Rio Branco, chanceler durante dez anos (1902-1912).

Para aspirar ao posto, provavelmente numa necessária reforma do CS, o Brasil precisava participar mais ativamente da solução de crises e problemas internacionais. Assim, no governo Lula, o país ficou com a chefia militar da Minustah, a missão da ONU para estabilizar o Haiti, criada pelo CS em abril de 2004. Esta participação é mantida até hoje e tem contribuído para militares e policiais brasileiros adquirirem experiência em ações em áreas conturbadas e hostis.

Mas o próprio PT fez alterações profundas no rumo da diplomacia brasileira. Apesar de o país ser incluído no Brics, grupo dos maiores países emergentes, passou a prevalecer em Brasília uma ideologia terceiro-mundista sem temor pela estreiteza de seus horizontes, pela defasagem histórica e pelos prejuízos que causaria ao país. A primeira providência foi apoiar o bolivarianismo chavista, estratagema para converter a democracia em regime autoritário, valendo-se das próprias instituições democráticas. Felizmente, as instituições brasileiras são hoje sólidas o bastante para não se deixar contaminar. Nem o lulopetismo o tentou no plano interno. Mas o antiamericanismo chavista foi devidamente incorporado, em detrimento dos interesses comerciais do país. Como reflexo disso, o papel internacional do Brasil vem encolhendo.

A presidente Dilma Rousseff chegou a dar mostras de que pretendia alterar o rumo da diplomacia brasileira, como quando o país votou com os EUA, na ONU, a favor do envio de uma missão ao Irã para examinar denúncias de violações dos direitos humanos. Mas ela rapidamente voltou à cartilha lulopetista, que considera Cuba a matriz permanente e a Venezuela, democrática. Que se se absteve na ONU, em 2011, em votação para criar uma zona de exclusão aérea sobre a Líbia do então ditador Muamar Kadafi; como se absteve este mês, na Assembleia Geral, em votação que considerou inválido o referendo que resultou na anexação da Crimeia ucraniana à Rússia.

Um país que segue essa rota divergente da maior parte da comunidade internacional não pode ter mesmo respaldo para lutar por um assento permanente no CS. Se é para vetar resoluções apoiadas pela maioria, basta a presença no conselho de Rússia e China.

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