CORREIO BRAZILIENSE - 07/05
É antigo o equívoco de quem quebra o termômetro para baixar a febre. Pior do que não resolver, a atitude apenas contribui para que o doente desconheça a gravidade da doença, impedindo a aplicação de remédio adequado para curá-la. O Brasil acaba de escapar de semelhante equívoco, graças à determinação de funcionários públicos, que demonstraram ainda haver profissionalismo, dedicação e seriedade. Gente que coloca a honestidade profissional acima de interesses partidários e não cede diante da tentação de agradar aos poderosos de plantão.
Depois de conquistar o respeito da população e de estudiosos das questões sociais e econômicas do país, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) vem fundando sua reputação na inabalável convicção de que seu produto mais nobre tem nome: credibilidade. Não foi, portanto, sem motivo que causou constrangedora repercussão, em todo o país, a determinação da diretoria do órgão de suspender a publicação dos resultados trimestrais da mais nova produção da casa, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua. A decisão veio depois que os senadores Gleisi Hoffman (PT-PR), ex-ministra da Casa Civil, e Armando Monteiro (PTB-PE), da base do governo, questionaram a precisão de dados divulgados.
Com esse trabalho, o IBGE pretende substituir a tradicional Pesquisa Mensal de Emprego (PME), que colhe dados em apenas seis regiões metropolitanas, envolvendo cerca de 40 mil domicílios. A Pnad Contínua cobre 3,5 mil municípios em todo o país, ouvindo moradores de 211,3 mil domicílios, para produzir um retrato sem dúvida mais completo e próximo da realidade.
É possível que o mundo não desabasse sobre o IBGE se o resultado da nova pesquisa não tivesse apontado realidade diferente da que vem alimentando um dos trunfos do marketing oficial. Enquanto a PME mostrou uma taxa média de desemprego de 5,4% em 2013, a Pnad Contínua cravou 7,1%. Os senadores governistas argumentaram que poderia haver margens de erro entre os dados dos estados, com potencial para gerar contestações na Justiça, tendo em vista a nova lei que regula a repartição de verbas federais pelo Fundo de Participação dos Estados (FPE).
A diretoria do IBGE aceitou a argumentação de que não haveria tempo para adequar a pesquisa às exigências dessa lei e adiou a divulgação trimestral dos dados para 2015, depois, portanto, das eleições presidenciais. Inconformadas, duas diretoras do IBGE se demitiram, com a solidariedade de colegas, que ameaçaram segui-las.
Por fim, os técnicos se ofereceram para trabalhar mais horas por dia, para executar a adequação da pesquisa à lei no tempo exigido. Derrubaram, assim, qualquer motivo para interromper a divulgação dos dados de desemprego medidos com a profundidade da Pnad Contínua. A direção do órgão recuou e, em 3 de junho, o país vai saber como ficou o desemprego no primeiro trimestre. Venceu o bom senso e o Brasil ganhou a preservação de um trabalho sério e indispensável, mantendo-o imune ao calendário eleitoral.
Depois de conquistar o respeito da população e de estudiosos das questões sociais e econômicas do país, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) vem fundando sua reputação na inabalável convicção de que seu produto mais nobre tem nome: credibilidade. Não foi, portanto, sem motivo que causou constrangedora repercussão, em todo o país, a determinação da diretoria do órgão de suspender a publicação dos resultados trimestrais da mais nova produção da casa, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua. A decisão veio depois que os senadores Gleisi Hoffman (PT-PR), ex-ministra da Casa Civil, e Armando Monteiro (PTB-PE), da base do governo, questionaram a precisão de dados divulgados.
Com esse trabalho, o IBGE pretende substituir a tradicional Pesquisa Mensal de Emprego (PME), que colhe dados em apenas seis regiões metropolitanas, envolvendo cerca de 40 mil domicílios. A Pnad Contínua cobre 3,5 mil municípios em todo o país, ouvindo moradores de 211,3 mil domicílios, para produzir um retrato sem dúvida mais completo e próximo da realidade.
É possível que o mundo não desabasse sobre o IBGE se o resultado da nova pesquisa não tivesse apontado realidade diferente da que vem alimentando um dos trunfos do marketing oficial. Enquanto a PME mostrou uma taxa média de desemprego de 5,4% em 2013, a Pnad Contínua cravou 7,1%. Os senadores governistas argumentaram que poderia haver margens de erro entre os dados dos estados, com potencial para gerar contestações na Justiça, tendo em vista a nova lei que regula a repartição de verbas federais pelo Fundo de Participação dos Estados (FPE).
A diretoria do IBGE aceitou a argumentação de que não haveria tempo para adequar a pesquisa às exigências dessa lei e adiou a divulgação trimestral dos dados para 2015, depois, portanto, das eleições presidenciais. Inconformadas, duas diretoras do IBGE se demitiram, com a solidariedade de colegas, que ameaçaram segui-las.
Por fim, os técnicos se ofereceram para trabalhar mais horas por dia, para executar a adequação da pesquisa à lei no tempo exigido. Derrubaram, assim, qualquer motivo para interromper a divulgação dos dados de desemprego medidos com a profundidade da Pnad Contínua. A direção do órgão recuou e, em 3 de junho, o país vai saber como ficou o desemprego no primeiro trimestre. Venceu o bom senso e o Brasil ganhou a preservação de um trabalho sério e indispensável, mantendo-o imune ao calendário eleitoral.
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