O Estado de S.Paulo - 12/03
O menos conhecido entre os postulantes à Presidência na eleição deste ano, o governador Eduardo Campos precisa virar notícia. O caminho mais curto é polemizar com quem já é notícia: a presidente Dilma Rousseff.
Independentemente de ela responder - o que provavelmente não fará -, os ataques diretos à presidente rendem espaço no noticiário político ao governador de Pernambuco e ajudam na identificação como candidato de oposição junto ao eleitorado.
Uma fórmula simples. Opção arriscada, diriam alguns, pois representa um caminho sem volta. Seria, se nessa altura Eduardo Campos ainda estivesse apostando em alguma forma de convivência com os ex-aliados do PT.
Não parece. Ou melhor: tudo indica que o governador agora atravessou mesmo o seu rubicão. Resolveu assumir de vez o papel de oposicionista sem adjetivos, dispensando até mesmo o estágio na ambiguidade que marcou a conduta dos candidatos do PSDB nas últimas eleições presidenciais.
Os tucanos primeiro ficaram com receio de se contaminar com os problemáticos índices de popularidade do segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso e depois se conduziram com medo de se confrontar com o alto grau de popularidade de Luiz Inácio da Silva.
Não defenderam o legado de seus dois governos, viram o PT subtrair-lhes o patrimônio da estabilidade econômica e fizeram três campanhas presidenciais nas quais era complicado o eleitor perceber em que lado mesmo estavam os tucanos. Os discursos eram dúbios e os posicionamentos do partido nos Estados também.
Escolado nessas escapadelas - até porque Minas Gerais foi protagonista por três vezes de uma das mais evidentes -, o senador Aécio Neves quis acumular a candidatura com o posto de presidente do PSDB. Para controlar as alianças regionais do partido e evitar a formação de possíveis quintas colunas.
Voltando a Eduardo Campos, ele não pode dar-se ao luxo da dubiedade. Se não partir para o confronto, deixa esse espaço todo livre para o tucano Aécio. Além disso, fica eternamente na sombra do governismo federal e não trilha o caminho independente que pretende.
Nas últimas semanas fez duas frases de efeito citando nominal e diretamente a presidente da República. Na primeira, disse que ela estava de "aviso prévio". Ou seja, cumprindo seus últimos meses no cargo. Com isso, enfrentou logo um tema tabu, o de que Dilma está reeleita.
Pode até ser favorita, mas ele como adversário "à vera" precisa se comportar como quem tem chance de derrotá-la. A segunda frase de Eduardo Campos sinaliza a intenção de atrair a atenção dos descontentes com o desempenho e com a maneira de ser da presidente.
"O Brasil não aguenta mais quatro anos de Dilma", afirmou, numa oração de fácil compreensão e que se presta bem ao uso político da repetição de uma ideia força sem muita elaboração de conteúdo. Guardadas as proporções, é o que faz Lula.
Dessa fase de Campos não escapam os tucanos. Ontem entraram na roda por tabela, quando o governador acusou a presidente de "varrer para debaixo do tapete" as dificuldades da economia tal como fez Fernando Henrique antes da eleição de 1998. Assim, o candidato do PSB vai tentando não ficar a reboque de ninguém.
Avaliados os custos e os benefícios, digamos que não tem nada a perder. Pode ser visto como ingrato? Pode, mas quem o vê por essa ótica não vota nele, pois considera que seu compromisso com o PT deveria ser eterno.
Para isso, Eduardo Campos também tem resposta. Dirá que seu dever de lealdade começou e terminou com Lula. Dilma ele ajudou a eleger, não o contrário.
E o PT, quando o chamou de playboy mimado sem que Lula desautorizasse a declaração nem Dilma impusesse algum reparo, deu uma boa ajuda à decisão do governador de pôr as mangas formal e oficialmente de fora.
Para todos os efeitos, foi o governo quem começou.
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