O Estado de S.Paulo - 30/01
Em apenas 15 dias, o ambiente global, que era relativamente favorável, virou contra a economia dos emergentes.
Ainda na metade de janeiro, o Ministério da Fazenda e o Banco Central (BC) comemoravam a facilidade com que empresas brasileiras, entre as quais a Petrobrás, captavam novos empréstimos externos. Essa fonte secou abruptamente porque a percepção entre os senhores do dinheiro é de que a reversão da atual política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) e a desaceleração da China provocarão o sumiço de recursos para o financiamento do rombo dos países emergentes.
Na última segunda-feira, o presidente do BC, Alexandre Tombini, advertiu na London School of Economics que começou a funcionar um gigantesco "aspirador de pó" de dólares, que provocará não só secura financeira para os emergentes, mas também certa fuga de capitais, que começou pela Argentina e pela Turquia.
A resposta da Turquia foi dar um choque nos juros, ou seja, foi reduzir substancialmente o volume de moeda (a lira turca) para neutralizar a desvalorização diante do dólar. Podem não estar claras as proporções dessa alta porque a Turquia trabalha com vários segmentos de oferta monetária, com juros diferenciados em cada uma delas. Mas foi uma paulada, como tentativa destinada a evitar a excessiva desvalorização de sua moeda.
A reação das autoridades do governo Dilma foi dizer que o Brasil não está sujeito a contágios, porque tem fundamentos sólidos e tal. O secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Márcio Holland, assoviou ontem essa música, que não convence ninguém.
O avanço econômico do Brasil segue insignificante, a inflação está à altura dos 6% ao ano e o rombo das contas externas é alto. Os grandes beneficiários da política econômica do governo Dilma, os tais 40 milhões incluídos às classes médias, mostram-se insatisfeitos organizando rolezinhos em shopping centers e protestos contra a Copa do Mundo.
O BC tem agora razão adicional para seguir puxando para cima os juros básicos, hoje em 10,50% ao ano. A maior inconsistência da política econômica do governo Dilma é de que a política fiscal e a política monetária caminham em direções opostas. O Ministério da Fazenda eleva as despesas para estimular o consumo e a atividade econômica; e o BC reduz o volume de moeda (aumenta os juros) para conter a demanda e a inflação.
A presidente Dilma prometeu para o início de fevereiro novas metas de política fiscal, que determinarão a sobra de arrecadação destinada a pagar a dívida (superávit primário). É uma excelente oportunidade para dar coerência à sua política econômica e evitar que os juros tenham de ir à lua para contrabalançar o aspirador de pó de que falou Tombini.
Não basta anunciar metas fiscais mais apertadas, coisa que este governo fez em cada um dos últimos três anos e não cumpriu. É preciso que essa meta carregue dose suficiente de credibilidade. A erupção do azedume externo pode ser o elemento que faltava para convencer a presidente Dilma de que não pode ficar parada e que precisa dar mais consistência à sua política econômica. A ver.
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