O GLOBO - 24/01
O Fórum Econômico Mundial, que se reúne em Davos, não é um oráculo dos mercados, mas tem séria repercussão na imagem dos países junto a investidores
Dilma Rousseff está hoje em Davos (Suíça), no Fórum Econômico Mundial, onde comparece pela primeira vez como presidente do Brasil. O Fórum é um evento anual, já tradicional, que reúne governantes, dirigentes de instituições multilaterais, empresários, acadêmicos e outros ilustres convidados para ouvir opiniões e debater questões que afetam os rumos da economia mundial. Não é local apropriado para proselitismo político (como fez na recepção a Obama em Brasília). Quem está lá espera encontrar respostas para muitas dúvidas em relação ao futuro, e dos governantes, especialmente. Deseja-se um diálogo franco em torno dos problemas apontados nos documentos prévios ao encontro.
O Fórum é um dos eventos internacionais que mais contribuem para a formação dos conceitos que os mercados têm sobre essa ou aquela economia. Não é um congresso de financistas, embora tenha chegado a ser identificado como um oráculo dos mercados. Partidos ditos de esquerda costumam rejeitá-los, embora haja declaradamente interesse dos participantes em ouvir diferentes correntes de opinião, sérias e fundamentadas.
Há um evidente esforço do governo Dilma, neste fim de mandato, em mudar o conceito da administração da presidente junto a investidores, empresários e mercados. Confiante em seu diagnóstico sobre a crise financeira internacional, e o que era preciso fazer para contorná-la, o governo Dilma simplesmente ignorou críticas e recomendações para correção de rumos. Os resultados ficaram aquém do que o governo prognosticara, e a imagem da economia brasileira sofreu enorme desgaste nos últimos tempos. O temor de deterioração das bases que sustentaram a recuperação da economia do país a partir do lançamento do real se agravou à medida que as agências internacionais de classificação de risco decidiram pôr o Brasil em perspectiva negativa. Concretamente, investidores estrangeiros têm se desfeito de aplicações financeiras no Brasil, mesmo depois que as taxas de juros voltaram a ser elevadas internamente.
A presidente Dilma tem hoje uma oportunidade para tentar reverter esse processo de desgaste de imagem, afastar o temor de que recolocou o Brasil rumo a um anacrônico “capitalismo de estado”. O governo vem dando sinais de correção de rota na política econômica, dispondo-se a acumular novamente, sem malabarismos contábeis, superávits primários nas finanças públicas capazes de recolocar o endividamento em trajetória de redução. É uma iniciativa necessária para ajudar o Banco Central no combate à inflação.
Por si só, o pronunciamento da presidente não será suficiente para recuperação da imagem e do conceito da economia brasileira nos diferentes mercados. Em face dos equívocos cometidos, o país estará sujeito a uma espécie de teste São Tomé. Mas, sem dúvida, se forem convincentes, as palavras da presidente serão um bom começo.
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