O GLOBO - 26/12
Foi acertada a decisão da presidente Dilma de comparecer ao Fórum Econômico Mundial, em janeiro, para falar aos investidores internacionais reunidos em Davos, na Suíça, no encontro que praticamente define os caminhos do capitalismo mundial. Até mesmo pelo fato de ser esta a primeira vez, a presença da presidente brasileira por si só já alcança o objetivo pretendido, que é o de garantir aos investidores internacionais que seu governo não deixará que o equilíbrio fiscal se perca e garantirá o respeito aos contratos.
O ex-presidente Lula foi o que mais aproveitou as aparições em Davos, tornando-se figura não apenas frequente nos encontros como muito admirada. Ele esteve no Fórum Econômico Mundial dias após ter tomado posse em 2003 e recebeu, no último ano de seu governo, o prêmio de Estadista Global. Antes dele, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso comparecera a uma reunião apenas e não gostou de como foi tratado por lá, quando o Brasil ainda não estava no radar internacional como país emergente.
Já Lula manteve uma relação mais amistosa com Davos do que seria de se esperar de um líder de esquerda. E certamente bem melhor do que a que manteve com o Fórum Social Mundial, que, por ironia da política, foi criado pelo PT justamente para se contrapor a Davos. Desde seu primeiro ano de governo, Lula tentou se equilibrar entre os dois encontros, mas não teve muito sucesso com seus companheiros de um novo mundo é possível , mote do Fórum Social.
No primeiro ano, compareceu aos dois fóruns e foi vaiado em Porto Alegre por isso. Em contrapartida, foi tratado como a grande estrela da reunião daquele ano em Davos. Então, ele demonstrou saber perfeitamente diferenciar seu papel de presidente do Brasil do de militante político. Em episódio já relatado na coluna, explicou a diferença a um socialista francês que o encontrou na embaixada do Brasil em Paris e demonstrou descontentamento por ele ter ido a Davos. Hoje eu não sou militante do PT, sou presidente da República. E devo fazer tudo o que um presidente tem que fazer.
Mesmo que depois tenha gradativamente perdido essa capacidade de diferenciar as questões de Estado das questões partidárias, Lula assumiu vários papéis em Davos: houve ano em que foi um vendedor entusiasmado do Brasil para os investidores internacionais, coordenando uma reunião especial sobre os programas de infraestrutura; outros em que foi apenas o líder carismático a encantar os louros de olhos azuis com sua história de vida, de superação.
Capaz de sentir como ninguém para onde o vento sopra, em dois anos Lula fez questão de assumir posições explícitas. Em 2007, com a economia mundial de vento em popa, e a brasileira entrando em ritmo de crescimento acima da média dos últimos anos, Lula escandalizou a esquerda ao decidir só comparecer ao Fórum Econômico, deixando de lado a reunião social no Quênia. Já em 2009, com a crise econômica internacional que estourara em setembro do ano anterior, Lula decidiu pela primeira vez só comparecer ao Fórum Social, em Belém, onde criticou os donos do Universo . Na busca de reaproximação com os movimentos sociais, criticou os Estados Unidos e os países desenvolvidos, culpando-os pela crise econômica mundial, e pôde dividir o protagonismo com líderes esquerdistas como Chávez e Evo Morales, que sempre fizeram muito sucesso no Fórum Social e nunca puseram os pés na estação de esqui suíça que hospeda o Fórum Econômico.
Dilma, que já foi duas vezes ao Fórum Social Mundial, encontrará o Fórum Econômico recuperando-se do trauma que sofreu por não ter previsto a crise financeira internacional de 2008. Este ano o fórum terá como tema principal as profundas mudanças políticas, econômicas, sociais e, sobretudo, tecnológicas que estão transformando as vidas, as comunidades e as instituições, alterando o poder das hierarquias tradicionais em hierarquias em rede.
Dilma falará no dia 24 em um destaque da programação, tendo o fundador e diretor-executivo do fórum, Klaus Schwab , como anfitrião, tratamento VIP dado aos convidados mais ilustres. Provavelmente o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, e a ex-senadora Marina Silva não terão o mesmo tratamento VIP, mas serão atrações paralelas que chamarão bastante atenção dos investidores, seja pela fama de Marina de ser um entrave a investimentos devido ao que seria uma visão radicalizada do ambientalismo, quanto pela possibilidade de Campos vir a suceder a Dilma.
Nenhum comentário:
Postar um comentário