O Estado de S.Paulo - 28/11
Se a revisão das Contas Nacionais levou ao que a presidente Dilma revelou em sua entrevista ao diário espanhol El País, as implicações não serão meramente estatísticas e não se limitarão à correção das séries históricas. Terão impacto relevante sobre a economia.
O IBGE está revendo as Contas Nacionais (as que calculam o PIB) baseado na suposição de que certos resultados anteriores foram subestimados. Corria a hipótese entre alguns economistas de que o setor de serviços é maior do que se supunha até agora e que, por isso, produz mais renda. A conclusão, ainda provisória e sujeita a análises, confirmou a hipótese.
Segue-se que a evolução do PIB em 2012 (sobre 2011) não foi de apenas 0,9%, como está nos registros, mas de alguma coisa ao redor de 1,5%. Foi o que adiantou a presidente Dilma com base em avaliações do Ministério da Fazenda. Os números oficiais serão divulgados pelo IBGE dia 3 de dezembro.
A presidente Dilma já está festejando porque essa revisão das Contas Nacionais tira alguma força daquela crítica de que este governo só produz PIBs nanicos. Mas há implicações mais importantes do que essa.
Uma delas é a de que o valor do salário mínimo em 2014 será também alguma coisa mais alto do que se previa. Em vez de R$ 722 será de R$ 727 (variação nominal de 7,17% em vez de 6,54%), conforme os cálculos ainda preliminares de uma instituição privada, a LCA Consultores. Salário mínimo mais alto implica, por sua vez, aumento da renda do trabalhador e dos custos de produção.
Como cerca de 67% dos benefícios da Previdência Social correspondem ao salário mínimo, haverá, também, um aumento de despesas do INSS que não virá acompanhado de aumento proporcional das receitas.
Outro efeito negativo ocorrerá nas contas públicas. Em 2012, as três áreas do setor público (governo federal, Estados e municípios) pouparam R$ 105 bilhões (superávit primário), correspondentes a 2,38% do PIB mais curto. Como o PIB ficou mais alto e o superávit primário manteve-se no mesmo tamanho, a relação com o PIB foi reduzida. Ou seja, o governo entregou um desempenho fiscal mais baixo do que o prometido.
O PIB mais alto em 2012 eleva a base de cálculo do PIB de 2013. Se hoje está crescendo à velocidade de 2,5% sobre uma base mais alta, o PIB de 2013 também será mais alto do que os R$ 4,7 trilhões das projeções do Banco Central. Assim, para o melhor e para o pior, todas as demais magnitudes medidas em proporção ao PIB têm de ser alteradas: dívida bruta e dívida líquida, déficit em Conta Corrente (contas externas), evolução do crédito, etc.
Outra consequência prática de impacto não desprezível vai para a fatia da indústria no bolo nacional. Se todos esses cálculos estão sendo refeitos porque a participação do setor de serviços no PIB não era de apenas 68,5%, mas de algo mais do que isso, segue-se que a indústria, que pesava 26,3% no PIB, pesará ainda menos (veja o Confira). Ou seja, as reclamações de que a indústria brasileira está se desidratando devem aumentar.
Do ponto de vista das políticas macroeconômicas, se o objetivo do governo é aumentar mais rapidamente o emprego, a área a ser acionada será o setor de serviços, que contrata mais gente e cresce mais depressa.
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