O GLOBO - 07/09
A Bienal do Livro do Rio termina amanhã confirmando seu papel de principal evento literário do Brasil. É uma delícia passear nos seus corredores e entrar nos estandes, vendo as pessoas carregando suas sacolinhas; algumas chegam com mala de rodinha. Só no sábado passado passaram por lá 90 mil pessoas com uma enorme presença de crianças e jovens.
Segundo Sônia Jardim, presidente da Comissão Organizadora do evento e do Sindicato Nacional dos Editores de Livros, o maior desafio nestes 30 anos da Bienal é sempre se renovar. O negócio do livro está em transformação com o livro digital para um futuro ainda desconhecido, mas quem vai a uma bienal sai com a impressão de que — qualquer que seja o formato — o livro não vai acabar. Estandes de livro físico predominam, mas os cantos virtuais ficam lotados de jovens experimentando as novas plataformas e fazendo a mesma busca que se vê nos pontos tradicionais.
— A tendência é essa e o brasileiro gosta de tecnologia, mas hoje os digitais são apenas 0,01% dos livros vendidos no Brasil. Nos Estados Unidos, eles já representam 25% das vendas e no Reino Unido, 12% — diz Sônia.
Na Bienal do Rio, a expectativa é de 600 mil pessoas ao todo nos onze dias, e venda de dois milhões e meio de exemplares com R$ 58 milhões de faturamento. Mas com tudo isso, o dono da rede Travessa, Rui Campos, não acha que as bienais, festivais, salões e eventos literários tirem público das livrarias.
— As livrarias estão num bom momento porque se renovaram. No primeiro livro que eu comprei, meu pai me levou num lugar onde tinha um balcão e eu pedi ao vendedor que me entregasse o livro que queria. Hoje, a livraria é o lugar onde as pessoas vão para estar conectadas, ver as tendências, se encontrar, tem restaurante, um café. A pessoa vai para ter intimidade com o livro e assim se cria demanda. Outro dia, eu estava na loja e vi umas 20 pessoas sentadas lendo, como se fosse uma biblioteca, e duas estavam sem sapato, como se estivessem em casa. As livrarias viraram lugares lindos.
Conversei com Sônia e Rui dentro da Bienal, pegando emprestado o espaço da Mulher e Ponto, para improvisar um estúdio. Depois andamos, a equipe da Globo-news, os entrevistados e eu, no meio dos corredores e encontramos todo o tipo de leitor. O absorto no livro de papel, o experimentador digital, o pesquisador, a criançada correndo atrás do ídolo. Uma festa.
Nessa mudança de modelo de negócios, as empresas ainda estão tentando se encontrar e grandes companhias estão chegando ao mercado, mas segundo Rui Campos, a sua loja virtual, que comercializa o livro de papel, mas vendido online, já é a terceira maior em faturamento, e as lojas físicas não reduziram as vendas.
Mas não e fácil. Muita gente pensa que não tem custo. Tem sim. O pessoal mais caro é o que tem o domínio da tecnologia para fazer funcionar um sistema que é complexo.
Sônia Jardim acha que no Brasil é preciso resguardar os direitos autorais num mundo que tem a impressão de que tudo que há na internet é de graça. Ninguém sabe muito bem o que será o futuro do livro, mas Sônia disse que na última bienal, 49% dos visitantes tinham entre 14 e 29 anos. Rui afirma que as pessoas que amam o livro não sabem viver sem ele e lembrou Millôr: "um livro leva a outro"
— Se ele acabasse, eu procuraria um traficante que me entregasse o mais novo exemplar porque eu quero ler a vida inteira. Vamos fazer o maior esforço para que o digital vingue, mas isso não é o fim do livro.
Minha impressão também é esta. O livro — digital ou físico — vai existir sempre. Ele é mais do que a plataforma em que está.
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