FOLHA DE SP - 22/08
Dado o tamanho do tumulto, governo fala pouco; parece não querer 'prender e arrebentar' o dólar
DADOS O NÍVEL costumeiro de ruído neste governo e o tamanho da encrenca, o pessoal de Brasília até que está quieto. Sim, ministros vários disseram uma ou outra coisa sobre o câmbio, mas em geral tratou-se apenas de espumas flutuantes. Ninguém apareceu com um "prendo e arrebento" o dólar.
De mais enfático, até porque mais raro, houve o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, a dizer "não vem que não tem" (alta de juros na semana que vem, um aumento da Selic maior que o esperado até agora pouco, antes do tumulto). Isto é, a dizer que a especulação com juros, prima da presente especulação com dólar, pode acabar num tombo feio.
Afora medidas heroicas, porém inglórias, o governo não tem mesmo muito o que fazer para segurar essa onda, o início do refluxo do "tsunami" de dinheiro que começou em 2008, que atingiu especialmente o país. Mas por ora mal piscou diante do tumulto, que não é pequeno.
Pode ser que esteja achando bom mesmo o real entre R$ 2,40 e R$ 2,50, se é que a coisa vai parar por aí. Ainda que seja esse o caso, o rescaldo da mudança de patamar do dólar não vai ser nada simples. Mas o governo tampouco deu indicações do que pretende fazer diante da nova situação, se pretende.
A presidente viaja em campanha pelo interior do país, entregando escavadeiras, lançando um programa "Mais Qualquer Coisa", citando ETs, beatas e enaltecendo a importância do "pacto fiscal" que anunciou quando ainda sentia a chapa quente das ruas. A conversa sobre o pacto continua tão absurda quanto antes, pois a responsabilidade maior pelo "pacto fiscal" é do governo federal, que não dá conta do próprio recado.
No mais, silêncio. Vez e outra, nos últimos dois dias, apareceram boatinhos sobre medidas administrativas com o fim de conter a especulação na Bolsa brasileira (BM&F), coisa que o pessoal do governo nega.
Comentam apenas o de sempre. A indústria "começa a respirar, vai ganhar força com o novo câmbio" e que " a produtividade começa a aumentar" (quer dizer, emprego e salários crescem menos, o que o pessoal do governo não menciona, claro). Ademais, os leilões de concessões a partir de outubro "vão representar uma virada", os "EUA voltando a crescer ajuda também" (por ora nem 1,7%, mas vá lá) e, enfim, o "Brasil neste ano vai crescer mais, pô!".
Enquanto isso, a especulação vai continuar enquanto o povo do mercado puder surfar na onda da alta de juros e outros deslocamentos tectônicos da política econômica americana. O amplo e bem instrumentado mercado brasileiro oferece muita oportunidade para fazer quizumba financeira.
Os bancos maiores brasileiros alteram suas previsões de taxa de câmbio para R$ 2,45-R$ 2,50 no final do ano. Sim, previsões de câmbio são das mais furadas. Faz dois meses, os bancões acreditavam em dólar a R$ 2,10 no final do ano.
Ainda assim, o tapa no termômetro ratifica a ideia de que o caldo engrossou. Mesmo que o BC não reveja o ritmo de aumento dos juros, talvez tenha de esticar a campanha altista. Se não precisar fazê-lo, estaremos crescendo ainda menos que 2,2%. O emprego vai minguando, em especial nas maiores metrópoles. Embora ainda se abram vagas, o saldo do ano tende a ficar perto do zero a zero.
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