FOLHA DE SP - 29/07
RIO DE JANEIRO - Parece mentira: Detroit, a cidade-símbolo da cultura do automóvel, quebrou. Deve US$ 20 bilhões, que não tem como pagar, e, de lá, saem agora apenas 5% dos carros montados nos EUA. Sua população passou de 1,8 milhão para 700 mil, dos quais 40% vivem abaixo da linha da pobreza. É também a cidade mais violenta do país, com quarteirões incendiados, destruídos e abandonados.
As causas parecem ser as crises econômicas e a concorrência da Ásia. Mas há também um fator que me toca mais: o declínio da dita cultura --a do automóvel. Segundo pesquisas, 20% dos jovens americanos hoje, entre 20 e 24 anos, não têm carteira de habilitação. Se essa idade cair para 18 anos, o número sobe para 40%. Isso num país em que, até há pouco, o carro era mais importante para um adolescente do que jogar beisebol ou beijar a coleguinha de classe.
E no qual o principal documento no bolso do cidadão era a carteira de motorista --como se a identidade do indivíduo estivesse atrelada a uma máquina e, sem esta, ele não existisse.
Claro que, nos países novos-ricos e grotões mais atrasados, a obsessão pelo carro continua. Mas, em algumas cidades, a agenda dos habitantes mudou. As pessoas estão tentando reduzir as distâncias, morando perto do trabalho ou mesmo trabalhando em casa. Em vez de sair de carro, andam a pé, usam bicicleta e exigem mais e melhor transporte público --nesse sentido, as recentes manifestações no Brasil não foram por acaso. Tudo passou a conspirar contra o automóvel --na verdade, contra o carro particular.
Ao ler isso, considero-me meio pioneiro. Nunca quis ter carro ou dirigir, o que me poupou de séculos de manobras, estacionamentos, engarrafamentos, bafômetro, multas e estresse. E de ocupar com quatro rodas o espaço que me foi concedido para as duas pernas.
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