FOLHA DE SP - 14/01
SÃO PAULO - Está em curso, dizem estudiosos, uma metamorfose na produção global de energia, com epicentro nos EUA. Técnicas de mineração para extrair gás e petróleo de uma classe de rochas, o xisto, obtêm combustível em larga escala e a preços ultracompetitivos.
Dotados de grandes reservas desse recurso, os EUA caminhariam depressa para a autossuficiência energética. Há quem os preveja tornando-se exportadores em menos de 20 anos.
Se o vaticínio estiver correto, uma série de repercussões importantes, nem todas restritas ao domínio da economia, vai derivar dessa transformação. Intervenções armadas para assegurar o suprimento energético da superpotência ocidental tendem a diminuir. A substituição de combustíveis fósseis por fontes renováveis vai dilatar-se no tempo.
O debate ambiental tende a acirrar-se, pois a nova vantagem econômica conferida ao gás natural e ao petróleo estimulará as emissões de gás carbônico -sem mencionar o caráter aparentemente mais predatório da mineração do xisto.
Pode haver pressão contra os produtores menos eficientes de petróleo e gás. O combustível extraído das profundezas do pré-sal será lucrativo? E nosso gás natural, bem mais caro que o americano?
O Brasil, que também tem reservas, vai entrar de cabeça na mineração do xisto? Vai manter a política de construir hidrelétricas sem grandes lagos, mais vulneráveis às inconstâncias das chuvas? Continuará a encher o sistema de térmicas que rodam com combustível caro?
Como fica na equação o programa do álcool combustível e o da queima do bagaço da cana e de outros resíduos para produzir eletricidade?
O debate sobre o sistema energético brasileiro perdeu o foco. Importa menos saber o nível do reservatório de Xingó do que indagar se teremos energia barata o suficiente para competir nesse mundo em rápida transição.
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