sábado, outubro 20, 2012

Lista antecipada dos piores de 2012 - LEONARDO CAVALCANTI

CORREIO BRAZILIENSE  - 20/10


Aqui, a antecipação do prêmio aos parlamentares que, em vez de aprovar um projeto importante para a sociedade, como o do fim dos 14º e 15º salários, aumentam dia sim dia não as regalias no Congresso


Deixarei os melhores para outro momento, ainda há tempo. Por ora, fiquemos com os malfeitos, afinal, mesmo a mais de dois meses do fim do ano, é fácil fazer uma lista dos piores de 2012. O prêmio desta coluna é incontestável. E vai para os congressistas com quase 70 dias de antecedência, um período que, como se sabe, os caras trabalharão pouco — para ser generoso, vá lá.

Antes de detalhar os critérios inquestionáveis para chegar aos campeões, algumas considerações para não ser injusto, afinal, a entrega do troféu teria de ser simbólica a 594 parlamentares, mas, a bem da verdade, não são todos que o merecem. Há gente ali de dentro do Congresso que, por exemplo, abriu mão de vantagens indevidas e participa dos trabalhos na Câmara e no Senado.

Mas, como não estamos aqui para fazer concessões, vamos à lista da vergonha, do vexame, do troco. É do que se trata. A relação é uma tentativa de dar o troco naqueles que embolsam dinheiro do contribuinte. Algo simplório, é verdade. Afinal, determinados camaradas se lixam para críticas sobre o trabalho deles — nesse caso, meus caros, para a falta de trabalho. Aos fatos, pois.

Enquanto a farra dos 14º e 15º salários não termina — mais detalhes, a seguir —, os deputados federais agora inventaram mais uma regalia. Ou, pelo menos, oficializaram o hábito de faltar em todas as segundas e sextas-feiras. Resolução a ser publicada no Diário da Câmara dos Deputados prevê a realização de sessões ordinárias apenas entre terça e quinta-feira. Todos precisam de um descanso, pois.

O que os deputados fizeram foi se desobrigar das faltas na segunda e na sexta-feira. Se livraram, assim, de descontos de salários nas sessões deliberativas, as que têm votações de projetos e podem ocorrer em qualquer dia da semana. Com a resolução aprovada em plenário, as sessões ordinárias da Casa passam a ser feitas “apenas uma vez por dia, de terça a quinta-feira, iniciando-se às 14h”.

Mérito
Para reforçar o mérito em ganhar o troféu de piores do ano e tornar a vitória incontestável, os nossos nobres parlamentares estão há quase quatro meses com um projeto moralizador engavetado. O texto sobre fim dos 14º e 15º salários chegou à Câmara em maio deste ano, depois de ter sido aprovado com relativa facilidade no Senado. De lá para cá, o projeto não avançou na Comissão de Finanças e Tributação.

A última notícia sobre o texto contra os 14º e 15º chegou na quarta-feira, quando o líder do PSD na Câmara dos Deputados, Guilherme Campos (SP), derrubou a sessão ao pedir a verificação de quorum. Até aquele momento existia um movimento para o projeto ser aprovado, segundo observou a repórter deste Correio Adriana Caitano. Com a desculpa de que a comissão reprovaria o texto, Campos achou melhor derrubar a sessão.

Calote
O fisiologismo sempre foi a tônica do Legislativo, mas a impressão agora é que tudo está mais escancarado. No último mês de maio, este Correio mostrou que os senadores aplicaram um calote de longos cinco anos na Receita Federal ao não descontar os 14º e 15º salários. Uma campanha do jornal foi iniciada cerca de dois meses antes, na Câmara Legislativa, que, depois das matérias, acabou com a regalias dali. Ocorre, que, de lá para cá, o contribuinte vem sendo prejudicado com decisões como a que prevê o pagamento do calote dos senadores pela União ou mesmo a liberação do ponto nas sessões de segundas e sextas-feiras na Câmara.

Outra coisa
A série de reportagens sobre o fim dos 14º e 15º salários é finalista do Prêmio Esso, um dos mais prestigiados do país. Como ela, mais sete trabalhos deste Correio foram indicados: “A fraude das adoções”, “O laranjal do Inep” (categoria Centro-Oeste); “Educadora ao pé da letra” (Educação); “O mal esquecido” (Informação Científica, Tecnológica e Ambiental); “Adeus, Chico” (Primeira Página); “As aventuras de Tintin” e “Mural — a árvore da vida” (Criação Gráfica). Todas elas são prova do comprometimento deste jornal com o leitor.

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