FOLHA DE SP - 04/07
Por que o Banco Central parece entrar em pânico toda vez que a cotação do dólar passa de R$ 2?
O PIB brasileiro anda de lado desde o ano passado, tendo crescido meros 0,8% entre o primeiro trimestre de 2011 e o primeiro de 2012. Em contraste, o emprego -medido nas seis principais regiões metropolitanas do país- aumentou 1,8%.
Tomado ao pé da letra, esse resultado é preocupante, ao sugerir que cada trabalhador brasileiro produz, em média, 1% menos do que era capaz há um ano.
Como a expansão da produtividade é a base sobre a qual se apoia o crescimento sustentável, se confirmado, isso indicaria limites muito estreitos para o aumento da produção.
Eu, porém, não tomaria esses números literalmente. Mesmo a se considerar que, com a taxa de desemprego no mínimo histórico, empresas sejam obrigadas a contratar de forma crescente os trabalhadores menos qualificados, a queda absoluta da produtividade me parece um exagero.
Caso fôssemos repetir o mesmo cálculo, digamos, no segundo trimestre de 2010, quando o PIB crescia quase 9% e o emprego 4%, concluiríamos que a produtividade então se expandia a vertiginosos 4,6%.
Posto de outra forma, algo mais técnica, dizemos que essa medida da produtividade (ou a produtividade "observada", em oposição à produtividade "verdadeira") é fortemente pró-cíclica, isto é, cresce quando a economia se expande e cai quando ela desacelera.
Não se trata, portanto, de uma estimativa das mais úteis para avaliar o potencial de crescimento do país, pois se mostra otimista demais nos períodos de expansão e exageradamente pessimista no caso oposto.
Há, todavia, formas de contornar esse problema, desde que estejamos dispostos a incorrer em certos custos. Nesse caso específico, para lidar com a questão da flutuação cíclica da produtividade, utilizei uma medida de tendência, que, por construção, tenta evitar precisamente esse tipo de fenômeno.
O principal custo disso é a perda de uma noção mais clara do que tem ocorrido nos últimos trimestres. Por outro lado, estimamos que a expansão da produtividade teria se mantido em ritmo pouco superior a 1,5% por ano de 2006 para cá, desempenho que, se não é brilhante, também não corroboraria a noção de queda da produtividade.
Há, é bom dizer, alguns sinais de desaceleração do ritmo de crescimento da produtividade no setor industrial, aparentes também nos dados mensais de produção e de emprego daquele setor, mas não da economia como um todo.
Por outro lado, o aumento salarial vem se acelerando. Tanto os dados do IBGE, cobrindo as seis regiões metropolitanas e todas as modalidades de trabalho, quanto os do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) -cuja abrangência é nacional, mas que se concentra apenas nos empregos formais- indicam que os salários médios vêm crescendo cerca de 11% a 12% na comparação com o mesmo período do ano anterior, provavelmente em resposta à redução persistente da taxa de desemprego.
Entretanto, se cada trabalhador custa agora 11% ou 12% mais, mas produz apenas 1,5% a mais, então o custo de cada unidade de trabalho deve ter crescido em torno de 9,5% a 10,5%, com implicações relevantes para a economia.
Nos setores mais sujeitos à competição internacional, mas onde os preços externos se encontram a níveis historicamente baixos (manufaturas), a capacidade de repasse dos custos aos preços é reduzida e, portanto, é a redução das margens que absorve o custo mais alto da mão de obra. Em contraste, nos setores mais protegidos (serviços), o repasse tem sido intenso.
Não é por outro motivo que a inflação de serviços -a despeito da mudança de pesos ocorrida no começo do ano- se mantém elevada, enquanto a inflação de bens duráveis (auxiliada por cortes temporários de impostos) é negativa.
Posto de outra forma, o dólar barato ajudou a conter a inflação, ao compensar, pelo lado dos bens industriais, a pressão dos serviços.
Dá para entender por que o Banco Central parece entrar em pânico toda vez que o dólar supera R$ 2?
O PIB brasileiro anda de lado desde o ano passado, tendo crescido meros 0,8% entre o primeiro trimestre de 2011 e o primeiro de 2012. Em contraste, o emprego -medido nas seis principais regiões metropolitanas do país- aumentou 1,8%.
Tomado ao pé da letra, esse resultado é preocupante, ao sugerir que cada trabalhador brasileiro produz, em média, 1% menos do que era capaz há um ano.
Como a expansão da produtividade é a base sobre a qual se apoia o crescimento sustentável, se confirmado, isso indicaria limites muito estreitos para o aumento da produção.
Eu, porém, não tomaria esses números literalmente. Mesmo a se considerar que, com a taxa de desemprego no mínimo histórico, empresas sejam obrigadas a contratar de forma crescente os trabalhadores menos qualificados, a queda absoluta da produtividade me parece um exagero.
Caso fôssemos repetir o mesmo cálculo, digamos, no segundo trimestre de 2010, quando o PIB crescia quase 9% e o emprego 4%, concluiríamos que a produtividade então se expandia a vertiginosos 4,6%.
Posto de outra forma, algo mais técnica, dizemos que essa medida da produtividade (ou a produtividade "observada", em oposição à produtividade "verdadeira") é fortemente pró-cíclica, isto é, cresce quando a economia se expande e cai quando ela desacelera.
Não se trata, portanto, de uma estimativa das mais úteis para avaliar o potencial de crescimento do país, pois se mostra otimista demais nos períodos de expansão e exageradamente pessimista no caso oposto.
Há, todavia, formas de contornar esse problema, desde que estejamos dispostos a incorrer em certos custos. Nesse caso específico, para lidar com a questão da flutuação cíclica da produtividade, utilizei uma medida de tendência, que, por construção, tenta evitar precisamente esse tipo de fenômeno.
O principal custo disso é a perda de uma noção mais clara do que tem ocorrido nos últimos trimestres. Por outro lado, estimamos que a expansão da produtividade teria se mantido em ritmo pouco superior a 1,5% por ano de 2006 para cá, desempenho que, se não é brilhante, também não corroboraria a noção de queda da produtividade.
Há, é bom dizer, alguns sinais de desaceleração do ritmo de crescimento da produtividade no setor industrial, aparentes também nos dados mensais de produção e de emprego daquele setor, mas não da economia como um todo.
Por outro lado, o aumento salarial vem se acelerando. Tanto os dados do IBGE, cobrindo as seis regiões metropolitanas e todas as modalidades de trabalho, quanto os do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) -cuja abrangência é nacional, mas que se concentra apenas nos empregos formais- indicam que os salários médios vêm crescendo cerca de 11% a 12% na comparação com o mesmo período do ano anterior, provavelmente em resposta à redução persistente da taxa de desemprego.
Entretanto, se cada trabalhador custa agora 11% ou 12% mais, mas produz apenas 1,5% a mais, então o custo de cada unidade de trabalho deve ter crescido em torno de 9,5% a 10,5%, com implicações relevantes para a economia.
Nos setores mais sujeitos à competição internacional, mas onde os preços externos se encontram a níveis historicamente baixos (manufaturas), a capacidade de repasse dos custos aos preços é reduzida e, portanto, é a redução das margens que absorve o custo mais alto da mão de obra. Em contraste, nos setores mais protegidos (serviços), o repasse tem sido intenso.
Não é por outro motivo que a inflação de serviços -a despeito da mudança de pesos ocorrida no começo do ano- se mantém elevada, enquanto a inflação de bens duráveis (auxiliada por cortes temporários de impostos) é negativa.
Posto de outra forma, o dólar barato ajudou a conter a inflação, ao compensar, pelo lado dos bens industriais, a pressão dos serviços.
Dá para entender por que o Banco Central parece entrar em pânico toda vez que o dólar supera R$ 2?
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