CORREIO BRAZILIENSE - 26/06
A reunião do Mercosul na sexta-feira é a chance de Dilma se firmar como líder regional. A posição equilibrada que ela adotou até agora na crise do Paraguai foi o primeiro passo nesse sentidoDepois da acertada defesa do multilateralismo na Rio+20, a presidente Dilma Rousseff assume a Presidência do Mercosul na sexta-feira com a missão de se firmar como líder regional, diante das posições díspares do países da América do Sul sobre a crise do Paraguai. Embora praticamente todos tenham condenado o rito sumário do impeachment de Fernando Lugo — a Colômbia foi a única que até agora acolheu a decisão — as variações sobre como agir em relação ao novo governo jogam no colo do Brasil, o maior país do continente, a função de buscar o equilíbrio.
Por enquanto, embora os serviços de inteligência tenham falhado ao ponto de não informar o governo brasileiro sobre os problemas do país vizinho e o perigo de impeachment do presidente que comandava a Unasul, a diplomacia brasileira parece estar se saindo bem depois do leite derramado: não foi radical, ao ponto de defender a expulsão do Paraguai do Mercosul, o que prejudicará o povo daquele país, e nem deixou de criticar de forma veemente o rito sumário, chamando o embaixador Eduardo Santos.
Por falar em veemente...O comportamento brasileiro lhe deixa no momento em condições de mediador entre aqueles que só faltam mandar atacar o Paraguai e aqueles que respeitam a soberania do país em resolver seus problemas. E com uma vantagem: como a reunião do Mercosul só se dará na sexta-feira — na quinta à noite haverá apenas um jantar para os chefes de Estado do bloco — as autoridades têm ainda algum tempo para combinar o jogo antes do encontro de cúpula dos países em Mendonza, na Argentina.
Nesse período, o Brasil tentará convencer os demais países da região a adotar sanções políticas ao Paraguai, como a já declarada suspensão das reuniões do Mercosul. Mas nada de queimar a Ponte da Amizade impondo aos paraguaios sanções econômicas. Não se deixará, por exemplo, de cumprir a parte brasileira no acordo de Itaipu, inclusive em seus aspectos financeiros. Quanto a tapetes vermelhos e recepções a Federico Franco, nem pensar. Afinal, um presidente com nove meses de governo e conquistado num processo tão rápido, não pode querer agora que o continente lhe estenda todas as honras. Por mais que haja problemas num país é controversa a aprovação de um impeachment em três dias e dá margens a suspeitas de descumprimento das regras democráticas.
Por falar em regras democráticas...É esse ponto que o governo brasileiro deseja ser firme: deixar claro que processos desse tipo não combinam com países que prezam os rituais democráticos. E, nesse sentido, a diplomacia brasileira obteve vitórias importantes ontem: primeiro, os Estados Unidos condenaram o rito sumário e deixaram claro que cabe aos fóruns internacionais analisar a situação. A Espanha, que primeiramente havia reconhecido o novo governo, recuou. Agora, considera que cabe ao Mercosul e à Unasul avaliar a crise paraguaia.
Essas ações indicam que, até então, o Brasil está no caminho certo, o do equilíbrio. E que a região apresenta maturidade para resolver seus próprios problemas. O maior trunfo da Rio+20 foi justamente a preservação do multilaterismo para buscar um ponto de partida quanto ao futuro. Ninguém largou o encontro no meio e foi para casa dizendo que não assinaria nada. E, sob esse ponto de vista, a presidente Dilma conseguiu um tento. Agora, ela terá que trabalhar para obter essa vitória no campo regional, ou seja, garantir um consenso dentro do Mercosul sobre a crise no Paraguai. É sob esse aspecto que esta sexta-feira se torna crucial para Dilma enquanto líder regional. Vamos acompanhar.
Por falar em acompanhar...Começa a surgir um movimento no Senado no sentido de deixar o caso Demóstenes Torres para agosto. E o “x” da questão está nos prazos regimentais. O texto fala em sessões ordinárias, sem especificar se são deliberativas ou de debates. Já tem gente tentando dizer que sessões ordinárias são apenas as deliberativas, de forma a esticar um pouco mais o prazo para julgar o senador. Assim, dizem alguns, chega o recesso e, quem sabe, o caso esfria tornando possível se criar um clima pela absolvição. Diante dessa perspectiva, é bom ficar de olho.
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