FOLHA DE SP - 23/05
Na política de contenção de danos, governo, que queria crescer mais de 4%, agora tenta evitar menos de 3%
ATÉ MAIO, OS economistas de Dilma Rousseff se viravam a fim de esticar o crescimento da economia para 4% ao ano, a "meta mínima" da presidente. Havia até então mesmo controvérsia sobre um possível hiperaquecimento da atividade econômica lá pelo fim do ano.
A conversa mudou de tom, tanto no governo como na finança, para nem falar nas empresas. O tempo fechou subitamente em maio. Já vinha nublado, decerto, mas a Europa mandou um alerta de furacão.
A política agora é de contenção de danos. Não se trata de crescer ao menos 4%, mas de evitar um crescimento muito menor do que 3%.
O pacotinho de segunda-feira fala por si só. Trata-se, grosso modo, de um anabolizante de curto prazo para o setor ainda central da indústria, as fábricas de veículos.
O estoque das montadoras está em nível semelhante ao verificado no pânico que se seguiu à explosão da crise, em setembro de 2008.
Naquela época, muitos setores da indústria começaram a demitir "por conta", se antecipando a uma grande recessão. Agora, não se vê tal atitude, mas estava para começar uma paradeira nas montadoras (ou foi isso o que elas disseram ao governo).
Estoques ainda altos levariam as fábricas a decretar férias coletivas. A parada levaria ao sufoco os fornecedores das fábricas. Férias coletivas e sufoco nos fornecedores em breve dariam em demissões, que em seguida afetariam a cadeia de serviços do setor: comércio, finanças, reparos etc. Haveria, assim, contágio no restante da economia.
Não é possível verificar o tamanho do problema nas montadoras, pois elas não abrem suas contas (o que deveria ser obrigatório para quem recebe tanto "estímulo" do governo). Mas as vendas vão de fato mal; o crédito para financiar a venda de carros despencou desde meados do ano passado.
O pacotinho de segunda-feira não é muito mais do que isso. O Banco Central liberou dinheiro que os bancos têm de manter na reserva (do BC) para financiar carros, haverá mais prazo de financiamento e exigência de entrada menor.
No mais, o IOF sobre crediário caiu um pouquinho e haverá mais empréstimo subsidiado para empresas comprarem bens de capital.
O efeito geral das medidas é o de contrabalançar a piora adicional das perspectivas econômicas para a economia neste ano. Isto é, procura-se compensar o impacto negativo que a rediviva crise europeia teria sobre uma economia que já andava devagar. Não mais que isso.
O que emperra o crescimento neste ano, afora os famosos "fatores estruturais" de sempre, é a impressionante contenção do investimento das empresas e a ainda fraca retomada do investimento do governo.
Algumas novidades da conjuntura azedaram mais o ambiente. O real desvalorizado, antes de favorecer a exportação (se é que vai), assusta as empresas, muitas endividadas em moeda estrangeira e com outros custos em dólar. Assustadas também por esse motivo, investem menos, tomam menos crédito lá fora.
O governo não vai parar por aí. Quer facilitar a renegociação de dívidas do consumidor ou a troca do financiamento imobiliário feito num banco por outro mais barato.
A queda dos juros e da inflação vai ajudar um pouco. Mas estamos agora apenas discutindo redução de danos e o curtíssimo prazo.
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