Folha de SP - 18/02/12
Há três ou quatro meses, estive no "Sem Censura", programa de Leda Nagle na TV Brasil. Ao meu lado, na bancada, o cantor Wando. A certa altura -não sei se em off, ao meu ouvido, num intervalo, ou em on, para todo mundo-, queixou-se de estar esquecido pelas gravadoras, pelos promotores de shows e pela mídia. Sua presença ali era uma rara oportunidade para furar o silêncio.
Wando morreu há dez dias, e sua morte tem ocupado mais espaço nos jornais e nas TVs do que no auge de sua carreira. Seu sucesso de 1978, "Emoções", foi exumado e incluído na programação das FMs e adotado até pelos blocos de Carnaval do Rio, onde tem sido cantado por milhares desfraldando sua marca: as calcinhas que as fãs lhe atiravam.
Lembrei-me de que, certo dia, em 1980, Aluizio Falcão, diretor da rádio Eldorado, me disse que iria lançar um "novo" compositor e cantor: Raul Seixas. Estava brincando, claro. Na verdade, iria tentar o que, então, parecia impossível: relançar o homem que, depois do estouro inicial, nos anos 70, tornara-se o artista mais abandonado da praça. E, de fato, o "Rock das Aranhas" trouxe o maldito Raul de volta às paradas, até que, rapidamente, o álcool e o éter o devolveram à zona fantasma.
Em 1988, Raul e eu fomos vizinhos de clínicas para dependentes químicos em Cotia, a 31 km de SP. Saímos ao mesmo tempo, em fins de fevereiro, e, por algumas semanas, frequentamos reuniões de autoajuda com gente das duas clínicas. Éramos uns 20, dos quais 19 estavam eufóricos e confiantes de que iriam tirar o macaco das costas. O único deprimido era Raul. Muitos de nós nos salvamos. Mas Raul voltou às substâncias e, em 1989, estava morto.
Dali nasceu, ao seu redor, uma religião, e ele nunca deixou de ser famoso e cultuado
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