segunda-feira, novembro 28, 2011

A Fundação Sarney é nossa - GUILHERME FIUZA



REVISTA ÉPOCA
O Supremo Tribunal Federal recebeu uma ação contra a estatização da Fundação José Sarney. Não vai dar em nada. Se o próprio Sarney já foi estatizado, nada mais natural que sua Fundação siga o mesmo caminho.
A estatização de José Sarney ocorreu em 2009, quando se descobriu que ele usava o Senado como propriedade particular, através de atos secretos. O Brasil soube, o Brasil viu, o Brasil aprovou. Um estrangeiro desavisado perguntaria: como assim? Ele não perdeu o mandato? Seria constrangedor demais responder que ele não perdeu nem a presidência do Senado. Melhor explicar que Sarney se tornou estatal.
Se o Brasil sancionou as manobras privadas de José Sarney no poder público – fazendo do Senado uma extensão de sua casa, em prol dos parentes e amigos –, ficou combinado que entre a pessoa do Senador e o Estado brasileiro não há fronteira (nem divisória, nem cortina japonesa). Sarney é público. Por isso, nada lhe aconteceu também quando usou o helicóptero da polícia do Maranhão para ir descansar em sua ilha particular. Se o passageiro era estatal, o descanso também era.
Agora, o PPS quer questionar a estatização da Fundação José Sarney, transformada em Fundação Memória Republicana. O que deu no partido de Roberto Freire? Só pode ser inveja. Que mal pode haver em transferir ao contribuinte a conta da ONG umbilical de Sarney, que o ajuda na função social de eternizar a si mesmo em vida? O que o PPS tem contra a socialização das despesas da família Sarney, em prol da memória republicana?
O STF haverá de rechaçar esse ato impatriótico da oposição. Até porque já há jurisprudência clara sobre a matéria: no caso Agaciel Maia (ex-operador dos atos secretos), o Brasil decidiu, de uma vez por todas, que aquilo que é do Estado é de Sarney, e não se fala mais nisso. Se assim não fosse, como poderia a Fundação José Sarney ter recebido dinheiro da Petrobras a fundo perdido, em convênios de fachada?
Na ocasião, a Controladoria-Geral da União afirmou que houve desvio de verbas da estatal, mas estava enganada. A CGU não entende nada de patrimônio público. O que sai dos cofres da Petrobras para os cofres de Sarney não é desvio, é linha reta. Se a Petrobras é estatal, Sarney também é. Portanto, está tudo em casa. E se papai decidiu pegar uns vales pré-sal para Roseana e os meninos, isso é assunto deles.
O certo é que as crianças justificam amplamente o investimento. Roseana, governando o Estado que ganhou do pai, sancionou a lei que estatiza a Fundação Sarney. Uma joia de filha. Fernando amordaçou o jornal que insistia em se meter nos negócios da família – e que chegara ao cúmulo da deselegância ao bisbilhotar telefonemas dos Sarneys com o compadre Agaciel. Fernando acabou com a baderna, usando suas relações quase sanguíneas com o Poder Judiciário. Um filho estatal, a cara do pai.
O povo brasileiro deve estar orgulhoso de bancar toda essa memória republicana, que o Estado do Maranhão poderá preservar com os recursos que recebe da União. E os brasileiros não podem deixar de agradecer, mais uma vez, a Lula e Dilma. Graças a esses dois líderes progressistas, o símbolo da modernidade democrática que é José Sarney foi ressuscitado e anabolizado com os poderes mágicos da mitologia esquerdista. O enclave PT-Sarney é a consagração do paradigma da solidariedade: o Estado entregue aos companheiros, aos amigos e aos amigos dos amigos.
Bem que Lula e Dilma poderiam pedir a Sarney um cantinho na Fundação Memória Republicana para o companheiro Carlos Lupi. Esse exemplo de salvação da máquina pública, tirando o Ministério do Trabalho da vala comum dos interesses nacionais e trazendo-o para o aconchego do partido, com a devida drenagem de recursos para o projeto político que sustenta a companheira presidenta, não pode cair no esquecimento. A resistência de Dilma, Lula e Lupi aos ataques da imprensa burguesa – provavelmente invejosa por não ser ONG e ter de prestar conta de tudo – é um capítulo histórico da solidariedade republicana.
E, se não for pedir demais ao nobre Senador estatizado, será que dava para reservar uma portinha de armário na Fundação para os movimentos anticorrupção? A bondade deles para com o companheiro Lupi não pode ser esquecida jamais.

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