A casca de banana atraiu Amorim
ELIO GASPARI
FOLHA DE SP - 10/08/11
Confirmando as piores expectativas, antes mesmo de assinar o termo de posse como ministro da Defesa, o embaixador Celso Amorim meteu-se em assuntos diplomáticos e declarou-se favorável à saída das tropas brasileiras do Haiti. Nas suas palavras: "É preciso pensar uma estratégia de saída." A ideia é boa, mas a agenda não é da Defesa, é do Itamaraty, a quem cabe tratar com as Nações Unidas, sob cuja bandeira estão os soldados. Ficaria melhor se Amorim dissesse que, concordando com o chanceler Antonio Patriota, acha que chegou a hora de voltar. Melhor ainda se anunciasse que essa é uma orientação da presidente da República. Deu-se, contudo, o pior dos cenários: o ministro da Defesa fala em sair do Haiti depois de um encontro com os comandantes militares.
Tendo sido ministro de Itamar Franco e de Lula, Amorim comandou o Itamaraty por nove anos e meio. Numa comparação quantitativa, bateu a marca do Barão do Rio Branco (1902-1910). Antonio Patriota foi seu colaborador direto, chefiou-lhe o gabinete e, em 2007, foi designado embaixador em Washington sem jamais ter chefiado uma missão no exterior. Trazido de volta, ocupou a secretaria-geral do ministério no último ano do mandarinato de Amorim.
Como há áreas em que a ação dos ministros das Relações Exteriores e da Defesa se complementam, e a presença no Haiti é uma delas, a escolha da doutora Dilma arrisca produzir novas encrencas. Nas palavras do chanceler Azeredo da Silveira (1974-1979), "tem gente que atravessa a rua para escorregar na casca de banana que está na outra calçada". Na primeira oportunidade, Amorim fez exatamente isso.
Amorim e Patriota diferem no estilo. Um é abrasivo, o outro, suave. Um canta o fim do jogo aos dez minutos do primeiro tempo. O outro procura confirmar se de fato o juiz apitou o desfecho da partida. Algo como se Amorim estivesse mais para Glauber Rocha, e Patriota, para Bruno Barreto. Numa ocasião, Amorim chamou a secretária de Estado Condoleezza Rice de "minha amiga Condi" e ela o chamou de "ministro Santos".
A tese segundo a qual Dilma Rousseff reorientou a diplomacia de Lula está à espera de comprovação factual. Noves fora a eliminação das estridências de Lula e Amorim, está tudo igual. Calaram-se algumas cornetas antiamericanis, mas eram apenas cornetas. O apoio ao regime iraniano tornou-se mais discreto e os acontecimentos fizeram com que se trocassem os afagos em Ahmadinejad por uma complacência com Bashar Al Assad.
O Brasil mostra-se compreensivo com os massacres ocorridos na Síria, mesmo quando o rei Abdullah, da Arábia Saudita, já se distanciou da ditadura de Damasco. Ficar em minoria na defesa de um princípio pode ser uma virtude, mas ficar em minoria na defesa de um ditador é apenas má política.
Se Amorim deixar o Itamaraty em paz, todo mundo lucrará, até porque ele se entenderá melhor com Patriota do que se entendia com Jobim. Pelo menos é isso que se percebe na leitura dos telegramas do Wikileaks, onde o embaixador americano Clifford Sobel aparece contando conversas que o estimulavam a sonhar com uma situação em que Jobim desafiaria (para gosto dos americanos) a predominância do Itamaraty em questões diplomáticas.
Tendo sido ministro de Itamar Franco e de Lula, Amorim comandou o Itamaraty por nove anos e meio. Numa comparação quantitativa, bateu a marca do Barão do Rio Branco (1902-1910). Antonio Patriota foi seu colaborador direto, chefiou-lhe o gabinete e, em 2007, foi designado embaixador em Washington sem jamais ter chefiado uma missão no exterior. Trazido de volta, ocupou a secretaria-geral do ministério no último ano do mandarinato de Amorim.
Como há áreas em que a ação dos ministros das Relações Exteriores e da Defesa se complementam, e a presença no Haiti é uma delas, a escolha da doutora Dilma arrisca produzir novas encrencas. Nas palavras do chanceler Azeredo da Silveira (1974-1979), "tem gente que atravessa a rua para escorregar na casca de banana que está na outra calçada". Na primeira oportunidade, Amorim fez exatamente isso.
Amorim e Patriota diferem no estilo. Um é abrasivo, o outro, suave. Um canta o fim do jogo aos dez minutos do primeiro tempo. O outro procura confirmar se de fato o juiz apitou o desfecho da partida. Algo como se Amorim estivesse mais para Glauber Rocha, e Patriota, para Bruno Barreto. Numa ocasião, Amorim chamou a secretária de Estado Condoleezza Rice de "minha amiga Condi" e ela o chamou de "ministro Santos".
A tese segundo a qual Dilma Rousseff reorientou a diplomacia de Lula está à espera de comprovação factual. Noves fora a eliminação das estridências de Lula e Amorim, está tudo igual. Calaram-se algumas cornetas antiamericanis, mas eram apenas cornetas. O apoio ao regime iraniano tornou-se mais discreto e os acontecimentos fizeram com que se trocassem os afagos em Ahmadinejad por uma complacência com Bashar Al Assad.
O Brasil mostra-se compreensivo com os massacres ocorridos na Síria, mesmo quando o rei Abdullah, da Arábia Saudita, já se distanciou da ditadura de Damasco. Ficar em minoria na defesa de um princípio pode ser uma virtude, mas ficar em minoria na defesa de um ditador é apenas má política.
Se Amorim deixar o Itamaraty em paz, todo mundo lucrará, até porque ele se entenderá melhor com Patriota do que se entendia com Jobim. Pelo menos é isso que se percebe na leitura dos telegramas do Wikileaks, onde o embaixador americano Clifford Sobel aparece contando conversas que o estimulavam a sonhar com uma situação em que Jobim desafiaria (para gosto dos americanos) a predominância do Itamaraty em questões diplomáticas.
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