Lenta e cruel
RUY CASTRO
FOLHA DE SÃO PAULO - 28/03/11
RIO DE JANEIRO - Um homem num barquinho atravessa uma nuvem estranha em meio ao Pacífico. Dias depois, descobre que ou suas calças cresceram ou ele está encolhendo. Com o tempo, confirma-se a segunda hipótese. A nuvem era radioativa, e ele, contaminado, encolherá até se tornar a menor partícula de matéria do universo. Trata-se, naturalmente, do belo filme "O Incrível Homem que Encolheu" (1957), de Jack Arnold.
Uma experiência atômica provoca uma mutação biológica nas formigas do deserto do Novo México. Acuadas por lança-chamas e bombas de fósforo, as superformigas se refugiam nos esgotos de Los Angeles, até serem a custo destruídas. É a história do filme "O Mundo em Perigo" (1954), de Gordon Douglas, que deixa na tela a pergunta: "Quais serão as consequências das outras explosões atômicas?".
O próprio cinema respondeu, na forma de bicharocos gigantes que dormiam em geleiras e foram acordados pelas explosões, ou cresceram demais por causa delas e atacaram as cidades -como a besta de 20 mil léguas ("O Monstro do Mar", 1953) ou o fabuloso Godzilla (Gojira, para os japoneses), que destruiu Tóquio várias vezes nos anos 50. E, em "A Hora Final" (1959), de Stanley Kramer, o mundo acabava, não sobrava ninguém.
A bomba era então o grande fantasma; a radiação, apenas um subproduto. Quem diria que, no futuro, qualquer vazamento radioativo, espalhando-se pela atmosfera, equivaleria a cem bombas em matéria de desgraça e destruição?
E cem vezes pior, porque também aflige, persegue e mata populações inteiras, só que de maneira mais lenta e cruel -com a água, o ar e os alimentos contaminados, as crianças e os animais expostos, a impossibilidade de se esconder, os ataques oportunistas a todos os órgãos do corpo e, enfim, a dúvida sobre se, uma vez afetado, vale a pena continuar vivo.
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