Depois do poder
Luiz Garcia
O Globo - 24/12/2010
E agora, Lula? Depois de oito anos dando duro em Brasília, o projeto é ir para casa. Ou partir para o mundo, onde sua popularidade é inegável, mesmo com aquele probleminha chato de ter de andar por quase toda parte com intérprete na ilharga. E, claro, um líder de reputação internacional não pode fazer vidinha só na ponte-aérea Rio-Lisboa. O observador distante - eufemismo para palpiteiro inteiramente desprovido de fontes confiáveis ou mesmo desconfiáveis - pode desconfiar que, ainda tendo idade para isso, o presidente que sai, estando na força da saúde, pode muito bem ter o projeto de ser o sucessor da sucessora. Daqui a oito anos ou, devido a eventuais problemas no percurso, daqui a quatro. É uma questão curiosa. Se Dilma, com perdão pela expressão grosseira, der com os burros na água a curto prazo, a possibilidade da volta de Lula ao Planalto virá mais cedo - mas será projeto mais difícil, exatamente devido às acima mencionadas cavalgaduras molhadas. E, caso a nossa primeira presidenta faça tudo direitinho, quem garante que em 2018 o escolhido pelo Planalto será como é mesmo o nome dele? A crônica da República registra duas tentativas de retorno ao poder pelo voto. Rodrigues Alves, presidente de 1902 a 1906, tentou voltar em 1918. Ganhou a eleição, mas foi da urna direto para o caixão: morreu antes de tomar posse. E Getúlio Vargas voltou em 1950 ao Catete. Onde se suicidou ante a iminência de ser deposto. Se Lula acredita em bruxas, fica na arquibancada o resto da vida. Em tese, poderia seguir o exemplo de Fernando Henrique Cardoso, hoje dedicado a um sério instituto de estudos sociais e mantendo o seu dedo na política apenas - tanto quanto sabe a arquibancada - em artigos semanais, nos quais a política só aparece de "P" maiúsculo. Na prática, e sem qualquer desdouro, a biografia de Lula não sugere trilha semelhante. Com ou sem projeto eleitoral a longo prazo (pensando bem, principalmente com) poderia dedicar seu tempo livre, a partir do ano que vem, a transformar a colcha de retalhos da militância petista num cobertor homogêneo, livre dos desvarios ideológicos da ala dos, digamos, pipocas-loucas ideológicos. Seria louvável empreendimento. |
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