segunda-feira, novembro 29, 2010

RUY CASTRO

 Vou à Penha
RUY CASTRO
FOLHA DE SÃO PAULO - 29/11/10

RIO DE JANEIRO - Alguns dias depois do ataque às torres do World Trade Center, a 11 de setembro de 2001, com a poeira e o medo ainda no ar, Nova York começou a sair às ruas. As pessoas voltaram aos restaurantes, lojas e teatros, a tomar sol nos parques e a andar com seu típico passo firme e acelerado. Muitas fizeram de propósito, para ajudar a devolver à cidade sua velha mística de coragem e resolução.
O dia 25 de novembro último pode ter sido o 11/9 do Rio. Foi necessária uma tragédia para unir população e autoridades contra o que, finalmente, se passou a ver como o inimigo comum. Os aplausos e os oferecimentos de água pelo carioca aos PMs que subiam os morros, os milhares de voluntários que se ofereceram para combater e o recorde de chamadas no Disque-Denúncia, informando nomes e esconderijos de traficantes, provaram isso. Vai para o museu o lema "Seja marginal, seja herói", de Helio Oiticica.
Nos primeiros dias da batalha no Rio, parte do comércio fechou, ônibus pararam, escolas não abriram, shows foram cancelados, um jogo de vôlei, adiado, e alguns eventos tiveram frequência mínima. É natural. O carioca cansou de ser espancado e ver o seu espancamento em rede e ao vivo -tudo que acontece aqui é amplificado a dimensões nacionais. É a única cidade do mundo em que os helicópteros das TVs disputam o espaço aéreo com os da polícia e em que as câmeras sobem o morro junto com os fuzis.
Pesquisas apressadas indicam que, por sua exposição nos últimos dias, o Rio perderá nos próximos meses uma quantidade significativa de turistas, domésticos e de fora. É pena, mas já aconteceu antes, e a cidade sobreviveu.
Cabe ao carioca, ele próprio, ocupar as praias, os bares, as ruas e fazer turismo no Rio. Eu, por exemplo, mesmo sem promessa a pagar, subirei à Penha assim que a pólvora baixar nos morros vizinhos -o Alemão e a Vila Cruzeiro.

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