sexta-feira, outubro 29, 2010

RENATO RIBEIRO ABREU

Alternativas sustentáveis 
RENATO RIBEIRO ABREU
O GLOBO - 29/10/10

O respeito ao meio ambiente, associado ao desenvolvimento sustentável, é uma agenda permanente para a sobrevivência de todos nós e nossos descendentes. Muito se fala sobre sustentabilidade, preservação ambiental, poluição, camada de ozônio.
Contudo, o tema é sério demais, e exige muita responsabilidade quando se trata do assunto.

Não temos pretensão alguma de ser donos da verdade. Porém, como participantes ativos nos setores industriais e do agronegócio em diversas atividades e estados do Brasil, entendemos que, por questão de honestidade, devemos emitir nossa opinião de forma imparcial. Muitos se arvoram em donos da verdade, com críticas irresponsáveis, inconvenientes e até por interesses outros, sem ter o mínimo conhecimento da realidade vivida pelos principais atores, que são os nossos agricultores, principalmente os do CentroOeste brasileiro.

Pela complexidade do tema, teremos que voltar a um, dois ou até três séculos. A nossa colonização começou com a extração do pau-brasil, depois mineração, açúcar, café etc. Mesmo antes do fim da escravidão, o governo brasileiro, durante o Império, começou a incentivar a vinda de estrangeiros para fortalecer nossa agricultura, bem como para o suprimento de mão de obra mais especializada. Colonizar, produzir, expandir e ocupar nossas fronteiras foi, durante esse longo período, o melhor que se tinha a fazer.

Nessa mesma ocasião, nos Estados Unidos, na famosa corrida para o Oeste, estes fatos também ocorriam, até com muito mais intensidade.

No final do século XIX, com o início da industrialização na Inglaterra, em alguns países da Europa e depois nos Estados Unidos, o fluxo de mão de obra, que até então era quase todo da agricultura, começou a migrar para a indústria. À medida que o setor industrial crescia, o homem do campo migrava para os grandes centros.

A humanidade continua e continuará crescendo, e a necessidade de alimentos idem. No Brasil, tínhamos, e ainda temos, dois terços de nossa área (região da Amazônia Legal) precisando de constante proteção. Não é fantasia, nem nacionalismo barato.

Quem viaja constantemente para o exterior sabe o quanto essa área é visada.

Em função disso, durante o governo JK, com a construção de Brasília e o início da industrialização no Brasil, e depois com o regime militar, ocupar essa região tornou-se prioridade.

Continua sendo agora, só que com responsabilidade ambiental e sustentável. Novos bandeirantes foram para o Centro-Oeste incentivados pelo governo. Trocaram pequenas áreas de terras no Sul e no Nordeste do Brasil por médias e grandes áreas no Centro-Oeste. Com clima e topografia excelentes, melhoraram a produtividade a cada ano, via fundações de pesquisas e Embrapa - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (no nosso entender, a mais importante empresa do Brasil).

Todo esse processo levou o Brasil a se tornar um dos líderes (em alguns setores o maior) na produção mundial de alimentos. Nos últimos 12 anos, isoladamente, o saldo do agronegócio tem sido muito superior ao saldo comercial brasileiro como um todo. E sem ele não teríamos atravessado tantas crises. Os outros setores da economia consomem parte do saldo da balança comercial do agronegócio. Ao longo de quase três séculos, todo este processo sempre contou com incentivo e apoio governamental.

Culpar os grandes desbravadores do passado e ainda do presente é uma enorme injustiça. Tratar nossos heróis como bandidos, idem. É óbvio que todo setor tem seus indesejados e aproveitadores, porém achamos que são minoria. O Brasil, com certeza, pode dobrar ou até triplicar nossa produção sem a necessidade de nenhum desmatamento, somente recuperando áreas degradadas e até reflorestando algumas.

Precisamos de alternativas criativas e viáveis, buscar a geração tanto quanto possível de energia limpa, proteger nossos mananciais, melhorar tecnologicamente nossas indústrias, reduzir drasticamente o desperdício e o consumo exagerado. Sabemos que não é uma tarefa fácil, mas, em vez de somente criticar, falar e condenar, mudar nosso comportamento com honestidade nas ações e respeito ao próximo tornará a tarefa possível.



RENATO RIBEIRO ABREU é empresário.

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