Quem dá mais?
RENATA LO PRETE
FOLHA DE SÃO PAULO 26/09/10
Dedicado à tarefa de impulsionar José Serra em São Paulo na semana final de campanha, o PSDB local faz marcação cerrada sobre os prefeitos que ameaçam se deixar seduzir pelo pacote de bondades do governo Lula. A operação responde à abundante oferta de obras para cidades com menos de 50 mil habitantes -e minguado orçamento- inscritas no PAC2.
Sinalizando dividendos da possível vitória de Geraldo Alckmin já em 3 de outubro, os tucanos querem evitar desmobilização dos "multiplicadores" e migração de apoio para Dilma Rousseff no interior no momento em que os serristas enxergam o Estado como peça-chave para tentar forçar o segundo turno.
Arsenal A preocupação dos tucanos se baseia em números robustos. O Planalto abriu cadastro para construir 1.500 creches, 1.529 quadras poliesportivas e 2.172 postos de saúde em todo o país. Os projetos dispensam contrapartida. "Tem prefeito que nunca disporia de verba própria para esse tipo de obra", diz um dirigente do PSDB.
Prioritário Nos intervalos do debate da CNBB, o marqueteiro de Dilma, João Santana, defendeu para Antonio Palocci a necessidade de recorrer ao STF para derrubar a exigência de apresentação de documento com foto, além do título de eleitor, na hora de votar. No dia seguinte, a campanha entrou com ação direta de inconstitucionalidade no Supremo.
Cadê? Anotação de advogados que leram a Adin: a petição não aponta qual dispositivo da Constituição teria sido violado pela exigência dos dois documentos.
Confortável 1 Quando Dilma emitiu os primeiros sinais de consolidação nas pesquisas, Celso Amorim (Relações Institucionais) deu a entender à própria que gostaria de ficar onde está.
Confortável 2 A movimentação de Amorim divide opiniões no governo. Há quem pense que contar com um chanceler experiente seria opção acertada para Dilma, em caso de vitória, dada a atenção que ela, novata na articulação política, terá de dedicar às questões domésticas. Outros, porém, lembram que Amorim é "a cara" da política externa de Lula, e que sua permanência daria a impressão de continuidade pura e simples nessa área.
Narrativa 1 Erenice Guerra não começou a empregar parentes quando chegou à Casa Civil. Na época em que era subordinada a Dilma Rousseff no Ministério de Minas e Energia (2003-2005), espalhou apaniguados por várias subsidiárias do setor elétrico. No Planalto agora se diz que Dilma, quando descobriu, chamou Erenice, e ela os afastou.
Narrativa 2 Integrantes do núcleo do governo avaliam que Erenice "se aproveitou" do afastamento de Dilma do dia a dia da Casa Civil, em virtude do tratamento contra o câncer, para nomear amigos do filho Israel Guerra. Vínicius Castro, derrubado por acusações de tráfico de influência, virou assessor de Erenice em 30 de junho de 2009. O tratamento de Dilma se concentrou entre abril e setembro desse ano.
Vai ficando Lula já fala em deixar o interino Carlos Eduardo Esteves Lima até o fim do governo na chefia da Casa Civil. Tudo para não criar turbulências.
Fiat lux O novo sistema de iluminação do Palácio do Planalto, baseado em sensores, criou constrangimento em recente cerimônia com a presença de Lula. Como as luzes se apagavam constantemente, um funcionário foi obrigado a "provocar" o sensor com uma vassoura enquanto durou o evento. com LETÍCIA SANDER e FÁBIO ZAMBELI
Tiroteio
"Ou o Serra saiu do PSDB e ninguém ficou sabendo, ou então o Sérgio Guerra se esqueceu de avisá-lo do que estava fazendo."
DO PRESIDENTE DO PT, JOSÉ EDUARDO DUTRA, em resposta ao candidato, segundo quem os vídeos de propaganda negativa contra Dilma Rousseff, encomendados pelo presidente tucano, não têm relação com sua campanha.
Dilema natural
Em episódio narrado por Carlos Chagas no livro "No Planalto, com a Imprensa", Café Filho recebeu Juscelino Kubitschek, então governador de Minas.
-Juscelino, senta aqui na cadeira de presidente...
Meio contrangido, o visitante obedeceu, e aí ouviu:
-Essa foi a primeira e única vez que você sentou na cadeira de presidente, porque está aqui o manifesto dos três ministros militares contra a sua candidatura!
Lá fora, quando um jornalista lhe perguntou se havia resolvido "a questão do café", motivo alegado da reunião, JK respondeu, muito bravo:
-De que café você fala: o vegetal ou o animal?
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