Causa e efeito
RENATA LO PRETE
FOLHA DE SÃO PAULO - 02/09/10
Além de tentar demonstrar simbiose entre a campanha de Dilma Rousseff e a violação de sigilo fiscal de personagens ligados ao PSDB, o alicerce da estratégia jurídica de José Serra no TSE é a tese de que o governo age deliberadamente para protelar a investigação de modo a concluí-la apenas depois da eleição.
No entender dos tucanos, a própria Receita Federal forneceu os indícios que materializariam o abuso de poder político em favor da candidata petista. "Não é só falsificação e bandidagem. Está claro o uso da máquina pública para acobertar o caso", afirma Ricardo Penteado, advogado da coligação tucana.
Cara de paisagem 1 No Planalto, a ordem é que as quebras de sigilo sejam tratadas como "caso de governo", e não de campanha. O Planalto vai pregar que quem está sendo atacada é a Receita Federal - e não Dilma, já que, na visão oficial, não haveria prova que ligue o caso à candidatura da petista.
Cara de paisagem 2 Por trás do discurso, contudo, o dia foi agitado no Planalto. Guido Mantega (Fazenda) chegou a ser escalado para falar sobre o caso, mas foi Otacílio Cartaxo, secretário da Receita, quem veio a público. Ele, que na semana passada se estendeu ao tratar do tema, ontem se limitou a ler curta declaração.
A ver Os tucanos garantem que os episódios de violação de sigilo não param nos já divulgados.
TT Ante a incandescência do escândalo, petistas e aliados silenciavam nos blogs e microblogs ontem. O assunto do dia para ministros e deputados governistas era o centenário do Corinthians.
Eu já sabia Quem examinou o dossiê produzido no "núcleo de inteligência" da campanha do PT em junho já concluía na ocasião que os dados de Verônica Serra e Gregório Preciado que constavam no material seriam fruto de violação de sigilo.
Estaleiro É delicado o estado de saúde de Orestes Quércia (PMDB-SP), que ontem divulgou nota suspendendo as atividades da campanha diante da necessidade de submeter, segundo o texto, a "exames médicos aprofundados". Outro candidato ao Senado, Romeu Tuma (PTB-SP), também enfrenta problemas nessa área.
Calo A terceira posição nas pesquisas não é o único problema a incomodar Geddel Vieira Lima (PMDB-BA). Candidato ao Senado em sua chapa, Cesar Borges (PR) não se conforma em ser tratado por Lula como adversário. A mesma tensão se repete com candidatos a deputado federal e estadual que esperavam entrar com os dois pés na canoa lulista ao apoiar Geddel.
Assombração O PMDB do Rio tem dito à coordenação da campanha de Dilma que, se Lula não der uma mãozinha a Jorge Picciani (PMDB) no Estado, corre o risco de ajudar Cesar Maia (DEM) a se eleger para o Senado. Por lá, Lula só gravou para Lindberg Farias (PT) e Marcelo Crivella (PRB).
Calculadora O mote da campanha das centrais pelo mínimo de R$ 560 é "uma nota de R$ 50". Trata-se do valor que seria acrescentado ao salário atual, de R$ 510. O percentual reivindicado equivale à variação do INPC, acrescida da variação média do PIB de 2005 a 2009.
Visita à Folha Januário Montone, secretário paulistano da Saúde, visitou ontem a Folha. Estava com Murilo Pizzolotti, coordenador de imprensa da secretaria, Moraes Eggers e Silvio Bressan, assessores de comunicação.
com LETÍCIA SANDER e FABIO ZAMBELI
tiroteio
"Essa quebra de sigilo é uma brutalidade, uma agressão aos princípios da administração pública."
DO SENADOR FRANCISCO DORNELLES (PP-RJ), pedindo que a Receita Federal intervenha em duas delegacias do ABC paulista, onde ocorreram os acessos aos dados fiscais de Verônica Serra e de outros dirigentes tucanos e pessoas ligadas ao PSDB.
contraponto
Caiu a ficha
Em meio a compromissos de campanha, o vice de Dilma, Michel Temer (PMDB), telefonou para o ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais) pensando se tratar do colega de partido e candidato a deputado federal Eliseu Padilha (PMDB-RS).
-E aí, Padilha, já conseguiu 500 mil votos?
-500 mil? Você está doido? Nós precisamos de milhões, 500 mil não é nada...
-Como assim, milhões?
-Temer, aqui quem fala é o Padilha ministro...
Um comentário:
O Quércia fez uma cirurgia no começado do ano e os médicos pediram repouso. Aí vcs sabem como é ne? Com a campanha, as caminhadas, comícios, viagens, o carinho dos eleitores, já que Quercia é muito querido no interior... tudo isso acaba influenciando e ele precisa descansar.
Não é nada demais.
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