LUIS FERNANDO VERISSIMO
A alternativa
VERISSIMO
O GLOBO - 22/08/10
Você eu não sei, mas quanto mais candidatos ridículos pedindo voto, mais eu gosto. O ideal seria que todos os candidatos fossem sérios e capazes, apresentassem suas credenciais e seus programas de maneira convincente ou no mínimo bem articulada, e representassem alguma coisa além da sua própria ambição, ou seu próprio delírio. O ideal seria uma democracia perfeita, em que a escolha fosse entre os melhores. Mas uma democracia perfeita, como é inviável, está apenas a um passo de democracia nenhuma. Os candidatos inacreditáveis que infestam os horários eleitorais com suas promessas malucas, suas caras assustadas e seus truques patéticos são, na verdade, guardiões da democracia possível. Sua existência garante que estamos salvos de qualquer pretensão ciceroniana a governos só de iluminados. Pense nisso na próxima vez que aparecer um candidato na TV pedindo seu voto porque é um bom filho ou um bom jogador de boliche. A alternativa ao ridículo é muito pior.
INTERINTER
Um jogo que nunca houve pode ser um clássico assim mesmo. Um clássico em gestação, um clássico que só falta ser jogado. Assim será se o Internacional de Porto Alegre e a Internazionale de Milão se encontrarem na final do campeonato mundial de clubes, nos Emirados Árabes, no fim deste ano. O Inter x Inter já pertence à história mesmo que ainda não tenha história. Já é um paradigma para o futuro mesmo sem ter acontecido. E se por alguma imprevidência divina o encontro não se der, ele ganhará a eternidade como um grande clássico hipotético. Vencido, na nossa imaginação, é claro, pelo Inter de Porto Alegre.
XEXÉO
O Artur Xexéo escreveu um livro sobre as quatro Copas do Mundo que cobriu para o Jornal do Brasil e O Globo. O Torcedor Acidental é um livro tipo pega-e-não-larga, escrito com muito humor e com o conhecido poder de observar o insólito do autor. O futeboll é secundário no relato. Xexéo conta suas idas e vindas atrás da seleção (muitas das quais fizemos juntos) através de cidades magníficas ou chatíssimas, passando por hotéis que também iam do louvável ao lamentável. No prefácio do livro, Fernando Calazans conta que no hotel em que ficamos em Saitama, no Japão (uma cidade muito feia, que só tinha de interessante um incongruente museu do John
Lennon) recebeu um telefonema do Xexéo.
“– Calazans – ele disse –, eu ia te chamar pra tomar um uísque comigo, mas no meu quarto não cabem dois copos.
– Nem no meu – respondi.”
Pois é. Além de tudo, o livro tem um prefácio do Calazans.
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