Nem pediram
LUIZ GARCIA
O GLOBO - 01/06/10
A maioria dos países mantém relações exteriores pela mesma razão que leva a maioria das pessoas a participar de reuniões de condomínio: a necessidade de ter paz e sossego em casa. O que não impede a existência de motivos subalternos: exibir prestígio e conquistar liderança, por exemplo.
A segunda hipótese parece ser o caso da inédita parceria entre o presidente Lula e o primeiro-ministro da Turquia, Recep Tayyip Erdogan. Não se discute a natural amizade entre os dois países, fortalecida por uma forte e bem-vinda emigração turca. Mas, na diplomacia mundial, eles têm em comum apenas a circunstância de serem, no momento, membros do Conselho de Segurança da ONU.
Em termos de pão, pão, queijo, queijo, a Turquia tem negócios que lhe interessam com o Irã: com o apoio pessoal de Lula, o Irã acaba de assinar um acordo com o país para a troca de urânio enriquecido.
O que ganhou o Brasil com isso? Notícia na mídia e, por enquanto, mais nada.
E isso pagando o preço de irritar o governo americano, nosso aliado natural e necessário. Segundo a secretária de Estado Hillary Clinton, existem, a propósito desse episódio, “discordâncias muito sérias” entre Washington e Brasília. Por motivo fácil de entender: o Irã — não por acaso, e sim devido à postura belicosa e ameaçadora dos aiatolás — não é considerado parceiro confiável pela comunidade ocidental (da qual, não deveria ser necessário lembrar, o Brasil faz parte).
Tanto o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, como Hillary reagiram mais ou menos da mesma maneira às negociações de Lula com os aiatolás: se levassem o Irã a adotar, de forma clara e confiável, uma política nuclear pacífica — em suma, muitas usinas e nenhuma bomba — parabéns para o brasileiro. Como isso não aconteceu, o Brasil está sendo cúmplice, ingênuo mas voluntário, de ações imprevisíveis de um país governado por fanáticos.
Lula respondeu à preocupação da secretária de Estado dos EUA e do secretáriogeral da ONU acusando-os do feio pecado da inveja: “Nós fizemos o que eles estão tentando fazer há muitos anos e não conseguiram.” É uma reação, para dizer o menos, ingênua.
A belicosidade e a arrogância dos aiatolás não foram inventadas pela CIA.
Negociar com o Irã não é inadmissível.
Mas depende do que se obtém em troca do que se oferece. Lula e Erdogan teriam direito à inveja do resto do mundo se tivessem obtido de Teerã a expressão de um desejo de paz e boa convivência com o resto do mundo. Não conseguiram nada disso. Pelo visto, nem pediram.
A segunda hipótese parece ser o caso da inédita parceria entre o presidente Lula e o primeiro-ministro da Turquia, Recep Tayyip Erdogan. Não se discute a natural amizade entre os dois países, fortalecida por uma forte e bem-vinda emigração turca. Mas, na diplomacia mundial, eles têm em comum apenas a circunstância de serem, no momento, membros do Conselho de Segurança da ONU.
Em termos de pão, pão, queijo, queijo, a Turquia tem negócios que lhe interessam com o Irã: com o apoio pessoal de Lula, o Irã acaba de assinar um acordo com o país para a troca de urânio enriquecido.
O que ganhou o Brasil com isso? Notícia na mídia e, por enquanto, mais nada.
E isso pagando o preço de irritar o governo americano, nosso aliado natural e necessário. Segundo a secretária de Estado Hillary Clinton, existem, a propósito desse episódio, “discordâncias muito sérias” entre Washington e Brasília. Por motivo fácil de entender: o Irã — não por acaso, e sim devido à postura belicosa e ameaçadora dos aiatolás — não é considerado parceiro confiável pela comunidade ocidental (da qual, não deveria ser necessário lembrar, o Brasil faz parte).
Tanto o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, como Hillary reagiram mais ou menos da mesma maneira às negociações de Lula com os aiatolás: se levassem o Irã a adotar, de forma clara e confiável, uma política nuclear pacífica — em suma, muitas usinas e nenhuma bomba — parabéns para o brasileiro. Como isso não aconteceu, o Brasil está sendo cúmplice, ingênuo mas voluntário, de ações imprevisíveis de um país governado por fanáticos.
Lula respondeu à preocupação da secretária de Estado dos EUA e do secretáriogeral da ONU acusando-os do feio pecado da inveja: “Nós fizemos o que eles estão tentando fazer há muitos anos e não conseguiram.” É uma reação, para dizer o menos, ingênua.
A belicosidade e a arrogância dos aiatolás não foram inventadas pela CIA.
Negociar com o Irã não é inadmissível.
Mas depende do que se obtém em troca do que se oferece. Lula e Erdogan teriam direito à inveja do resto do mundo se tivessem obtido de Teerã a expressão de um desejo de paz e boa convivência com o resto do mundo. Não conseguiram nada disso. Pelo visto, nem pediram.
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