Oliver Stone diz que Lula não deve confiar em elogios de Obama
Mônica Bergamo
Folha de S.Paulo - 27/05/2010
O cineasta americano Oliver Stone ("Platoon", "JFK", entre outros) chega ao Brasil na segunda, 31, para lançar "Ao Sul da Fronteira", documentário sobre sete presidentes da América Latina -com destaque para o venezuelano Hugo Chávez, de quem é admirador. Por telefone, de seu escritório, em Los Angeles, Stone falou à coluna:
Folha - Como é Chávez?
Oliver Stone - Ele é muito acolhedor e amoroso. As notícias sobre ele nos EUA têm sido muito negativas, porque ele mudou as regras. Fez coisas que nenhum outro, exceto [Fidel] Castro, havia feito. Ele tem feito coisas novas, assim como Néstor Kirchner na Argentina e Lula no Brasil. Como Cristina Kirchner diz no filme, as pessoas que estão no poder na América do Sul têm o semblante do povo que as elegeu. Hugo Chávez é um soldado e obviamente tem algumas das falhas de um soldado. Lula é um sindicalista e tem algumas das falhas de um sindicalista.
Mas ambos representam uma grande mudança. E eu espero que dê certo. Porque é o desejo de controlar o seu próprio destino, de ser levado a sério, de não ser ignorado.
O filme é pró-Chávez?
Não é pró-Chávez. Apenas mostra honestamente o que ele está fazendo e o que estão dizendo sobre ele. Não é um documentário longo que vai defender tudo, é uma "roadtrip". Se fosse pró-Chávez, ele teria três horas a mais.
O presidente Hugo Chávez tenta controlar a mídia na Venezuela...
[Interrompendo] Não mesmo. 80% da mídia na Venezuela é privada, dirigida por ricos que falam mal do governo. Chávez brigou pela liberdade de expressão. Alguns canais e revistas convocaram greves e chamaram as pessoas para um golpe de Estado em 2002. Em meu país, se você fizer isso, sua licença [de TV] será retirada.
Há relatos de jornalistas sobre a pressão do governo.
Estou falando do que vi e ouvi. O governo respeita a liberdade de imprensa, exceto nos casos em que a mídia desrespeita a lei ou tenta um golpe. Aí as licenças das empresas de comunicação não são renovadas. A maioria das TVs do país é dirigida por lunáticos, caras de direita que perderam seu poder quando Chávez nacionalizou o petróleo. É uma das imprensas mais histéricas que já vi.
O sr. desaprova algo no governo de Chávez?
Ele comete erros assim como qualquer outro governo do mundo. Mas 75% votaram nele em 2006. Nos EUA, a votação de Obama não chegou nem perto. Você não tem ideia de quão pobre era a Venezuela antes de Chávez. Parte por causa do neoliberalismo praticado, inclusive, no seu país, o Brasil. Washington e o FMI não têm interesse, de coração, nas pessoas. Chávez, Lula, Kirchner, [o boliviano Evo] Morales têm. E pagam o preço sendo criticados por pessoas que têm dinheiro e controlam a mídia.
No filme, Lula diz que só quer ser tratado com igualdade. Ele está sendo?
Por quem?
Por líderes do mundo.
Não. Ele e os outros líderes da América do Sul ainda são ignorados. Eu admiro muito o Lula. Ele fez uma coisa nobre indo ao Irã. Ele está tentando manter a sanidade, manter suas posições. Os americanos e europeus acreditam que podem controlar o mundo. Lula representa uma terceira via, de quem não quer a guerra, um caminho fora dessa loucura. Os EUA costumam dizer que Chávez é a má esquerda e Lula, a boa. Isso é nonsense. Obama apoiou Lula até quando ele cruzou a linha.
Ele disse que Lula é "o cara".
Eu não confiaria nos EUA. Os americanos sempre jogaram com os brasileiros desde que pudessem controlá-los. Apoiaram o golpe militar no país em 1964. O Brasil sempre esteve no bolso de trás dos EUA, mas agora eles têm que ser mais espertos. Sabem que não podem controlar o Brasil. E Lula é muito importante. Ele se dá com Chávez, com os Kirchner, e com a Colômbia, o Peru e o México, que são aliados dos Estados Unidos.
E Obama?
Nós estamos tentando. Ele é um homem racional, ético, mas faz parte de um grande sistema. Se ele não estivesse lá, estaria John McCain ou Sarah Palin. Você prefere eles? Eu não. Mas, em relação à América Latina, Obama está jogando o mesmo jogo. A reação americana ao golpe em Honduras foi típica.
O sr. vai fazer um documentário sobre o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad?
Não estou pensando nisso no momento. Houve um problema de comunicação. Eu quis fazer o filme, e ele [Ahmadinejad] não quis. Quando ele quis, eu estava fazendo o filme "W", sobre George W. Bush. (LÍGIA MESQUITA)
"Obama apoiou Lula até quando ele cruzou a linha."
"A maioria das TVs da Venezuela é dirigida por lunáticos de direita. É uma das imprensas mais histéricas que já vi."
OLIVER STONE
Prato Cheio
Ameaçado de fechar as portas após perder o patrocínio do banco HSBC, o cinema Belas Artes, na rua da Consolação, está negociando com um grupo de restaurantes para obter receita e manter as atividades. "A ideia seria o cliente acrescentar um valor na conta, que iria para um fundo de ajuda ao espaço", diz André Sturm, sócio do cine.
Prato Cheio 2
A iniciativa partiu de 14 restaurantes, entre outros, Le Casserole, Arabia e Ici Bistrô. A primeira reunião para detalhar o projeto estava marcada para ontem.
Paus e Pedras
A opinião, crescente no governo federal, de que o Estado e a prefeitura deveriam ajudar a bancar a reforma do Morumbi para a Copa de 2014 não encontra eco no comitê paulista para o Mundial. "Não existe a menor hipótese de colocarmos dinheiro no estádio. Seria um escândalo", diz um integrante graduado do órgão.
Festa de Baco
O 3º Leilão de Vinhos da Apae-SP arrecadou cerca de R$ 1,1 milhão anteontem. O maior lance, de R$ 14,5 mil, foi para uma garrafa de Chateau Petrus. Tanto o doador quanto o comprador da bebida preferem se manter no anonimato.
Se Virem nos 30
A uma hora do embarque da seleção brasileira para Brasília, ontem, os funcionários da TAM tiveram uma missão especial no aeroporto de Curitiba: encontrar a mala de Jorginho, auxiliar técnico de Dunga. As bagagens dos jogadores e da comissão técnica haviam sido retiradas do hotel horas antes do voo, para não atrasar a decolagem. Com as malas já no avião, Jorginho se lembrou de que precisava de um casaco.
Espraiadas
A Prefeitura de São Paulo diz que remanejou verbas da urbanização de favelas para turismo porque havia "saldo extra" nas operações da Água Espraiada e do Real Parque -e que as obras naqueles dois lugares não serão afetadas. Os R$ 32 milhões realocados vão financiar campanhas de promoção turística da capital paulista no interior, em outros Estados e no exterior.
Conexão França
A produtora Lulu Librandi promoveu jantar para homenagear a atriz francesa Fanny Ardant. A festa ocorreu na casa de Mariangela Bordon, nos Jardins.
Curto-circuito
Emannuel Andre, COO da TBWA, está no Brasil para a inauguração da exposição "Ubuntu", de fotos que fez em Soweto, na África do Sul. Hoje, às 19h, no MuBE.
Antonio Patriota, secretário-geral do Itamaraty, fala sobre desafios e oportunidades no Haiti pós-terremoto, hoje, às 14h, no auditório da sede do Ipea, em Brasília.
O espetáculo "Meninas da Loja", de autoria de Caco Galhardo, com Chris Couto, Cynthia Falabella, Mari Nogueira e Martha Nowill, tem estreia hoje, às 21h, no Espaço Parlapatões. 14 anos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário