Perfídia na Fiesp
JOSÉ HENRIQUE NUNES BARRETO
FOLHA DE SÃO PAULO - 31/05/10
O cenário é de turbulências, pois o contexto recente aponta para o uso da Fiesp em projetos políticos não previstos em estatuto
Em uma época nem tão longínqua, a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) era considerada uma entidade poderosa e influente. Suas reuniões despertavam a atenção da fina flor do jornalismo brasileiro.
Os pronunciamentos do seu presidente eram comentados pelas pessoas mais influentes do país.
Seu nome era sinônimo de respeito, atitude e correção. Nos últimos anos, contudo, a situação se assemelha à do gabinete de Ouro Preto, o último do Império.
Há algum tempo, a Fiesp deixou de ser frequentada por empresários de ideias e visão de futuro. Circulam pelos corredores do prédio da avenida Paulista poucos e atônitos donos de indústrias.
O cenário é de questionamentos e turbulências, pois o contexto recente aponta para o uso da Fiesp na direção de projetos políticos não previstos em finalidade estatutária.
Em primeiro lugar, trata-se de um contrassenso: o comandante de uma agremiação que prega a livre iniciativa se coloca como candidato do Partido Socialista Brasileiro.
Uma contradição que nem precisa de mais explicações.
Mas o problema não termina aí. A imagem do candidato, associada ao Sesi (Serviço Social da Indústria) e ao Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), foi indevidamente veiculada na TV. Quem nos responde sobre a finalidade da contratação do publicitário Duda Mendonça, até pouco tempo atrás pago com recursos da entidade?
Quer mais um exemplo? A principal plataforma política do presidente da Fiesp é a educação. Sua mensagem: ele vai levar o padrão de alta qualidade do ensino do sistema Sesi/Senai às escolas estaduais. Ou seja, subliminarmente, os eleitores têm a impressão de que ele é o idealizador do sistema, um desrespeito à memória de companheiros como Roberto Simonsen. A verdade é que tanto o Sesi quanto o Senai foram criados há mais de 50 anos, sempre com altos índices de excelência.
Ultimamente, contudo, o nível de ensino já não é o mesmo -os índices de empregabilidade dos alunos deixam a desejar, ao contrário do que diz a publicidade na TV.
Mas nada parece pior do que o processo de descumprimento das finalidades estatutárias que a Fiesp vem sofrendo. Não há agenda e os grandes problemas da indústria parecem não merecer atenção.
Justamente nesse momento, em que a Fiesp deveria jogar todo seu peso político na defesa da indústria paulista e na sua recuperação.
Mas o que se fez? A federação cancelou, de forma desrespeitosa, o congresso anual comemorativo do Dia da Indústria, em 25 de maio, em função da agenda eleitoral dos pré-candidatos à Presidência.
Nossa indústria é maior do que isso. Não podemos continuar assistindo ao desdobramento de interesses de cunho pessoal e estranhos à finalidade da entidade.
O presente autismo em que se encontra a Fiesp já não é ignorado pelos empresários paulistas. A resposta dos industriais comprometidos com a retidão, a modernidade e a livre iniciativa deve vir em breve.
JOSÉ HENRIQUE NUNES BARRETO, industrial e economista, é presidente do Sindifumo (Sindicato da Indústria do Fumo do Estado de São Paulo), membro do Conselho de Representantes e diretor eleito da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
Nenhum comentário:
Postar um comentário