Esperança, a última que morre
ELIANE CANTANHÊDE
FOLHA DE SÃO PAULO - 22/04/10
BRASÍLIA - De Juscelino Kubitschek, na inauguração de Brasília, em 21 de abril de 1960: "Pesou, sobretudo, em meu ânimo, a certeza de que era chegado o momento de estabelecer o equilíbrio do país, promover o seu progresso harmônico, prevenir o perigo de uma excessiva desigualdade no desenvolvimento das diversas regiões brasileiras, forçando o ritmo de nossa interiorização".
O Brasil era um país "oco", envolvido por um enorme litoral, onde pipocavam cidades, progresso e crescentes dramas urbanos. Brasília não resolveu, mas foi um bom passo para a previsão de JK de melhor equilíbrio e interiorização.
Como estariam, por exemplo, Goiás e os dois Mato Grosso sem a ousadia de JK e sem a prioridade ao agronegócio a partir dos anos 1970?
E a integração entre as regiões? E entre os brasileiros?
Passaram-se 50 anos e ainda há quem lamente a mudança da capital, como se Brasília fosse um peso e o escândalo Arruda fosse único e exclusivo, não uma doença que assola o país. Sem Brasília, o Rio seria uma capital de paz, de ética, de justiça? O país estaria uma beleza?
Depois desse meio século, o Rio tem o dobro de funcionários federais civis de Brasília (114.739 contra 61.698, conforme a Folha de ontem). Imagine como seria a "Cidade Maravilhosa" sem a "Capital da Esperança", acumulando os problemas intrínsecos à política e à administração federais com uma geografia picotada por morros e com a patologia urbana das favelas, do tráfico de drogas, de policiais e bicheiros que se matam à luz do dia.
Brasília é uma cidade linda, solar, cheia de jardins... e cercada de pobreza. Como são a zona sul do Rio e os centros ricos de São Paulo, de Fortaleza, de Porto Alegre. Não adianta demonizar a capital de JK, que simboliza vanguarda, progresso e esperança (a última que morre...) em desenvolvimento com democracia. Os problemas de Brasília não são de Brasília; são do Brasil.
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