A privataria petista é diferente, e pior
FOLHA DE SÃO PAULO - 28/02/10
O tucanato vendeu patrimônio da Viúva e o comissariado produz riqueza vendendo intenções do Planalto
QUEM ACOMPANHA o noticiário do mundo da informática tem um pé na felicidade. Na semana passada, por exemplo, apareceram três boas notícias.
1) A editora MacMillan trabalha num projeto para lançar livros didáticos on-line que poderão ser adaptados pelos professores, de acordo com a conveniência dos alunos.
2) Aproxima-se o dia em que os celulares terão um pequeno projetor de vídeo. Apareceram três modelos, caros e ruins, mas é assim que as novidades chegam ao mercado.
3) A Apple poderá baixar para US$ 0,99 o preço dos episódios de seriados de TV.
Isso pelo mundo afora. Em Pindorama, só notícias ruins.
1) O comissário José Dirceu recebeu R$ 620 mil por serviços de consultoria prestados ao empresário que comprou por R$ 1 parte da empresa falida Eletronet, que foi dona de uma rede de 16 mil quilômetros de fibras ópticas.
2) Diante das notícias de que o governo reanimaria a Telebrás para implantar um projeto federal de universalização da banda larga utilizando a rede da Eletronet, um lote de mil ações da estatal, que valia R$ 0,04, chegou a R$ 2,61. A primeira alta escandalosa de ações da Telebrás ocorreu no final de 2007 (200% num só dia), portanto o governo sempre soube que havia gente ganhando dinheiro com os ventos do Planalto.
3) A União Internacional de Telecomunicações informa que o brasileiro gasta 4,1% de sua renda em comunicações, dez vezes mais que o europeu e o canadense. A internet de banda larga custa, na média, US$ 34 mensais (em paridade do poder de compra, a PPC), contra US$ 20 nos Estados Unidos. O índice de acesso dos brasileiros à banda larga fixa é de seis por cem habitantes, para uma média mundial de 7,1.
Aquilo que num pedaço do mundo é progresso, no Brasil tornou-se uma avenida de inépcia e da ação de atravessadores. Boa parte das roubalheiras do governo de José Roberto Arruda passava pela contratação de serviços de informática.
A Infraero anunciou que ofereceria internet gratuita aos usuários de seus aeroportos, voltou atrás e meteu a faca. No Ministério da Saúde, torraram perto de R$ 400 milhões com serviços terceirizados para a montagem da rede do cartão SUS. Felizmente, servidores que foram mantidos longe das transações desenvolveram e aperfeiçoaram os programas que mantêm de pé uma parte do projeto.
Um pedaço da malandragem que se nutria vendendo serviços de segurança, manutenção e logística migrou para a informática. Nela ainda é fácil maquiar preços, aditivos e contratos de assistência. Se um magano contrata a reforma de um prédio, bem ou mal, pode-se ter uma ideia da qualidade e do custo do serviço. Na informática, já houve caso de preço dez vezes superior, manutenção saindo mais cara que o equipamento, isso para não falar em venda de material obsoleto.
Em 1998, Larry Page e Sergey Brin fundaram o Google numa garagem alugada de San Francisco e seis anos depois abriram o capital da empresa. Suas ações foram oferecidas a US$ 85 e hoje estão a US$ 526. Quem botou US$ 100 mil no Google em 2004 tem agora US$ 620 mil.
O Google revolucionou o acesso ao conhecimento, emprega 20 mil pessoas, atende a 1 bilhão de pedidos por dia e é considerado a marca mais poderosa do mundo. É um perfeito exemplo da força renovadora do capitalismo.
A Telebrás, ressuscitada pelo comissariado do Planalto, é o anti-Google, exemplo da voracidade destruidora da privataria petista. Quem comprou US$ 100 mil de ações da Telebrás no dia em que Page e Bryn ofereceram seus papéis, tem hoje US$ 6,5 milhões. Isso sem produzir um só emprego ou serviço.
Tomando-se os R$ 20 mil da remuneração mensal do comissário José Dirceu na empresa do homem da Eletronet como uma unidade de medida da privataria petista resulta o seguinte: quem usou um José Dirceu em 1994 para comprar ações do Google, tem hoje R$ 124 mil. Se tivesse comprado papéis da Telebrás, teria R$ 1,3 milhão.
A privataria tucana produziu escândalos, bens e serviços. A petista ficou nas operações escandalosas.
ERRO
Estava errada a informação publicada aqui na semana passada, no texto intitulado "Teologia da urucubaca vicia o tucanato", segundo a qual o noticiário do PSDB informou em janeiro que "os especialistas alertam que o aumento do desemprego no país pode levar a uma onda de calotes" e o deputado Luiz Paulo Vellozo Lucas advertiu para o perigo da inadimplência dos consumidores.
O noticiário do PSDB e o deputado não trataram desse assunto em janeiro passado, mas em janeiro de 2009, o que faz enorme diferença. Como Vellozo Lucas argumenta, com razão, "o cenário há 13 meses era completamente diferente do atual. Vivíamos o auge da crise financeira internacional, quando a retração global exigia uma revisão dos agentes econômicos e de seus planos de gastos e investimentos".
CERTEZA
Um velho companheiro de Lula, habituado aos seus silêncios, dissimulações e otimismos empostados, assegura:
"Ele está absolutamente convencido de que elege a Dilma".
GRANDE MESTRE
Em 2005, o chanceler Celso Amorim deu a Lula o qualificativo de "Nosso Guia". Dilma Rousseff acaba de conceder-lhe o título de "Grande Mestre".
FACA AÉREA
O serviço de atendimento aos passageiros da TAM criou uma dispendiosa novidade. Tendo cobrado R$ 300 para transportar uma criança de dez anos desacompanhada de São Paulo para o Rio, pediu mais R$ 100 pelo trabalho de embarcá-la e de entregá-la aos seus responsáveis no desembarque. A rentabilidade desse serviço é certamente maior que a da empresa aérea.
AUTOENGANO
A candidatura da senadora Marina Silva à Presidência da República ganhou a colaboração do professor de economia Eduardo Gianetti da Fonseca, autor do memorável livro "Auto-Engano", uma reflexão sobre a capacidade dos seres humanos de se enganarem. (Para evitar esse risco, Charles Darwin tinha o hábito de anotar tudo o que pudesse contrariar suas teorias, pois não queria esquecer o que não convinha lembrar.)
Em 2006, quando morreu o general chileno Augusto Pinochet, o professor disse o seguinte: "Pinochet foi um déspota esclarecido". Gianetti ressalvou que o qualificativo se referia à gestão econômica durante a ditadura do general, de 1973 a 1990. Nada a ver com a banda política (200 mil exilados, 3.200 mortos).
Gianetti não está sozinho nesse julgamento do general. Mesmo assim, no aspecto da clarividência econômica de Pinochet, o encontro do professor com a senadora indica que um dos dois está cultivando um autoengano. Ou autoenganaram-se aqueles que acompanharam as duas biografias.
BOA NOTÍCIA
A causa das cotas para negros em universidades públicas ganhou um defensor. O advogado Márcio Thomaz Bastos aceitou defender o caso no Supremo Tribunal Federal.
O julgamento demora pelo menos um ano e deverá ser antecedido por audiências públicas. É provável que entre para a história da corte.
Em tempo: como nos velhos tempos, quando Thomaz Bastos tirava presos das cadeias da ditadura, nada cobrará pelos seus serviços.
Um comentário:
Eu acho que o governo não terá outra escolha. Não acredito que uma empresa privada irá gastar R$10/$20 bilhões para cobrar até R$35,00 para o acesso a banda larga. Meu raciocínio é o seguinte: temos TV Digital? Sim, quanto é cobrado pela empresa X (não citarei nomes)? R$200,00/mês. A TV Digital só existe (funciona) em cidades como SP/RJ. E olha lá. O investimento para levar a TV Digital para o POVO é gigantesco, se não dá lucro, então eu, você e milhões de Zé-Manes não vamos ter TV Digital de graça. Para essas empressas é simples assim, não dá lucro, então dane-se.
A banda larga é a mesma coisa, eles cobram 3Megas e entregam 1 Mega na média (conexão real NÃO É é igual a nominal). E o 3G...SEM SINAL (toda hora resetando o programa de conexão), e furando o bolso todo mês. QUERO BANDA LARGA decente e barata.
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