O GLOBO - 11/01/10
Os economistas brasileiros não estão dando muita bola para 2010. Mesmo sendo um ano de eleições gerais por aqui, não há previsões de tempestades pelo caminho. A grande maioria aposta em um quadro de saudável crescimento, inflação controlada e mercados razoavelmente comportados. O foco das atenções passou a ser 2011, quando se espera mudanças nesse cenário.
Para que o país não se depare com uma situação de forte de desequilíbrio, no ano que vem o novo governo teria de voltar a segurar despesas. E o Banco Central, preventivamente, já em 2010, começaria a elevar as taxas básicas de juros, onerando novamente o crédito para desestimular a procura excessiva por bens e serviços.
De maneira geral, os economistas estão otimistas quanto à trajetória dos investimentos no país, mas, ainda que haja uma significativa recuperação nessas inversões, eles dizem que não serão suficientes para expandir a capacidade da produção industrial no ritmo desejado, a ponto de atender a demanda latente de curto prazo no mercado interno, garantindo, simultaneamente, excedentes para exportação.
Nesse caso, uma parte dessa demanda teria de ser postergada até que os investimentos para ampliação da oferta maturem.
Na prática, a economia nem sempre se comporta como as simulações feitas pelos economistas em seus computadores. A hipótese de uma demanda explosiva por bens de consumo não considera, por exemplo, fatores novos na economia brasileira, como um comprometimento crescente da renda das famílias no pagamento de prestações para a compra da casa própria.
Os dados mais recentes da produção industrial, levantados pelo IBGE, mostram certa acomodação dos bens de consumo duráveis e uma aceleração na fabricação de máquinas e equipamentos, o que é um bom sinal.
Em alguns momentos, economistas podem ter um olhar semelhante ao de garçons em restaurantes ou bares lotados. É um olhar oblíquo, que passa por cima de você, e só enxerga bem mais adiante.
Um quarto da população brasileira se beneficia de algum tipo de plano de saúde.
Na Região Sudeste, onde mais de 90% da população vivem em cidades, os planos atendem a um terço dos habitantes. Somente na Região Metropolitana de São Paulo há quase dez milhões de beneficiários (na média do estado, o percentual é da ordem de 40%). O Estado do Rio de Janeiro vem em segundo lugar, com um terço da população atendida por planos de saúde. Em Minas, essa proporção é de 20%.
Os mais baixos percentuais de cobertura estão nas regiões Norte e Nordeste, também as que têm mais população fora das cidades (aproximadamente 30% das pessoas). Em Tocantins, apenas 3,2% dos habitantes têm plano de saúde; em Roraima, 2,2%; e no Amapá, 5,2%.
Mas nesses três estados o número de pessoas atendidas pelos planos cresce em ritmo veloz, bem acima das demais unidades federativas.
No Nordeste, o Maranhão é o estado com menor índice de cobertura por planos de saúde (3,8% da população).
As análises sobre os impactos iniciais da grave crise financeira internacional sobre o Brasil subestimaram o papel das exportações na economia do país. O peso do comércio exterior no Produto Interno Bruto brasileiro é sem dúvida muito inferior ao da demanda doméstica, mas exportações e importações têm um efeito multiplicador incrível, especialmente no caso da indústria.
Estudo recente dos pesquisadores do BNDES Fernando Pimentel Puga e Marcelo Machado Nascimento mostra que a queda nas exportações foi responsável por mais da metade da retração da indústria brasileira nos seis meses que se seguiram ao agravamento da crise, em setembro de 2008. Tal efeito ainda podia ser percebido no fim do terceiro trimestre do ano passado: enquanto a quantidade exportada pelo país havia caído 17% (em comparação ao terceiro trimestre de 2008), a produção física da indústria continuava amargando uma queda de 10% no período.
Para avaliar esse impacto negativo, os dois pesquisadores calcularam o efetivo impacto das exportações sobre vários segmentos da indústria, considerando também as vendas intermediárias de componentes inseridos em bens finais exportados.
Exemplo, o aço contido nos automóveis vendidos ao exterior.
Por esse conceito de “coeficiente de exportação ampliado”, o impacto das vendas externas sobre a indústria em geral aumenta de 19,3% para 32,6% da produção. No caso de petróleo e combustíveis, esse impacto salta de 23,4% para 54%! O estudo confirma o que se observou na prática desde setembro de 2008.
Os insumos básicos industriais são mais expostos à demanda internacional (37,2%) que os bens finais (26,2%). Surpreendentemente, a metalurgia depende mais das exportações (47,6%) que o setor de couro e calçados (44,9%), sempre visto como um segmento voltado para o comércio exterior.
Também diferentemente do que vem sendo dito, a trajetória da indústria brasileira em 2010 dependerá muito do que acontecerá no mercado internacional.
O estudo completo dos dois pesquisadores será em breve inserido no portal do BNDES, na internet, na seção intitulada Visões do Desenvolvimento. Poderá ser identificado pelo número 66.
Para que o país não se depare com uma situação de forte de desequilíbrio, no ano que vem o novo governo teria de voltar a segurar despesas. E o Banco Central, preventivamente, já em 2010, começaria a elevar as taxas básicas de juros, onerando novamente o crédito para desestimular a procura excessiva por bens e serviços.
De maneira geral, os economistas estão otimistas quanto à trajetória dos investimentos no país, mas, ainda que haja uma significativa recuperação nessas inversões, eles dizem que não serão suficientes para expandir a capacidade da produção industrial no ritmo desejado, a ponto de atender a demanda latente de curto prazo no mercado interno, garantindo, simultaneamente, excedentes para exportação.
Nesse caso, uma parte dessa demanda teria de ser postergada até que os investimentos para ampliação da oferta maturem.
Na prática, a economia nem sempre se comporta como as simulações feitas pelos economistas em seus computadores. A hipótese de uma demanda explosiva por bens de consumo não considera, por exemplo, fatores novos na economia brasileira, como um comprometimento crescente da renda das famílias no pagamento de prestações para a compra da casa própria.
Os dados mais recentes da produção industrial, levantados pelo IBGE, mostram certa acomodação dos bens de consumo duráveis e uma aceleração na fabricação de máquinas e equipamentos, o que é um bom sinal.
Em alguns momentos, economistas podem ter um olhar semelhante ao de garçons em restaurantes ou bares lotados. É um olhar oblíquo, que passa por cima de você, e só enxerga bem mais adiante.
Um quarto da população brasileira se beneficia de algum tipo de plano de saúde.
Na Região Sudeste, onde mais de 90% da população vivem em cidades, os planos atendem a um terço dos habitantes. Somente na Região Metropolitana de São Paulo há quase dez milhões de beneficiários (na média do estado, o percentual é da ordem de 40%). O Estado do Rio de Janeiro vem em segundo lugar, com um terço da população atendida por planos de saúde. Em Minas, essa proporção é de 20%.
Os mais baixos percentuais de cobertura estão nas regiões Norte e Nordeste, também as que têm mais população fora das cidades (aproximadamente 30% das pessoas). Em Tocantins, apenas 3,2% dos habitantes têm plano de saúde; em Roraima, 2,2%; e no Amapá, 5,2%.
Mas nesses três estados o número de pessoas atendidas pelos planos cresce em ritmo veloz, bem acima das demais unidades federativas.
No Nordeste, o Maranhão é o estado com menor índice de cobertura por planos de saúde (3,8% da população).
As análises sobre os impactos iniciais da grave crise financeira internacional sobre o Brasil subestimaram o papel das exportações na economia do país. O peso do comércio exterior no Produto Interno Bruto brasileiro é sem dúvida muito inferior ao da demanda doméstica, mas exportações e importações têm um efeito multiplicador incrível, especialmente no caso da indústria.
Estudo recente dos pesquisadores do BNDES Fernando Pimentel Puga e Marcelo Machado Nascimento mostra que a queda nas exportações foi responsável por mais da metade da retração da indústria brasileira nos seis meses que se seguiram ao agravamento da crise, em setembro de 2008. Tal efeito ainda podia ser percebido no fim do terceiro trimestre do ano passado: enquanto a quantidade exportada pelo país havia caído 17% (em comparação ao terceiro trimestre de 2008), a produção física da indústria continuava amargando uma queda de 10% no período.
Para avaliar esse impacto negativo, os dois pesquisadores calcularam o efetivo impacto das exportações sobre vários segmentos da indústria, considerando também as vendas intermediárias de componentes inseridos em bens finais exportados.
Exemplo, o aço contido nos automóveis vendidos ao exterior.
Por esse conceito de “coeficiente de exportação ampliado”, o impacto das vendas externas sobre a indústria em geral aumenta de 19,3% para 32,6% da produção. No caso de petróleo e combustíveis, esse impacto salta de 23,4% para 54%! O estudo confirma o que se observou na prática desde setembro de 2008.
Os insumos básicos industriais são mais expostos à demanda internacional (37,2%) que os bens finais (26,2%). Surpreendentemente, a metalurgia depende mais das exportações (47,6%) que o setor de couro e calçados (44,9%), sempre visto como um segmento voltado para o comércio exterior.
Também diferentemente do que vem sendo dito, a trajetória da indústria brasileira em 2010 dependerá muito do que acontecerá no mercado internacional.
O estudo completo dos dois pesquisadores será em breve inserido no portal do BNDES, na internet, na seção intitulada Visões do Desenvolvimento. Poderá ser identificado pelo número 66.
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