FOLHA DE SÃO PAULO - 16/12/09
Às vezes, atenção e acaso intercedem contra o jogo de Lula; o que aconteceu com frequência incomum nos últimos dias
NADA DO QUE Lula faz ou diz é o que é. Quem duvide disso e não do próprio pode recordar a campanha eleitoral de Lula contra a política econômica de Fernando Henrique, nem precisa ir às "bravatas". Há sempre um propósito alheio ao dito ou ao feito, uma artimanha, um subterfúgio, uma manipulação utilitária do outro, e sobretudo dos outros. Quase sempre com êxito, facilitado, também quase sempre, pelos meios de comunicação levados por seus primeiros impulsos. Às vezes, porém, atenção e acaso intercedem contra o jogo de Lula. O que aconteceu, com frequência incomum, nos últimos dias.
Lula já falou vezes incontáveis "ao povo" sem recorrer ao chamado baixo calão. Sabe muito bem que a sua comunicação "popular" não precisa disso. Ao fazê-lo no Maranhão, em discurso sem importância alguma, a gratuidade do recurso mal teve tempo de provocar curiosidade. Lula deu logo a pista, ao criticar a imprensa que faz exatamente o que ele mais deseja: "Amanhã os jornais vão dizer "Lula falou palavrão", os comentaristas vão dizer (...)" -era isso que queria, já provocava com ares de desafio.
Lula jogou mais uma vez na surpresa, mas foi o surpreendido. Ou porque os jornais atentassem para o truque, ou porque a vulgaridade transforma o palavrão em palavrinha. "O Globo" até já causou um terremoto na memória do sempre elegante Roberto Marinho, com a mesma palavra de Lula usada em volumosa manchete de primeira página. Mas, como a maior qualidade de Lula é ter a companhia de uma sorte incomum, sua frustração ficou reduzida.
A utilidade do palavrão seria provocar um pequeno escândalo e desviar o interesse jornalístico por um assunto muito desgastante. É que o IBGE está obrigado, no governo Lula, a mandar para a Presidência da República, antes de divulgar, todas as pesquisas e os estudos. Com isso, o governo tem tempo, em casos negativos, de preparar evasivas, neutralizar o Congresso e buscar a colaboração dos seus nos meios de comunicação. Na véspera da viagem, a Presidência foi informada de que tudo o que Lula, Guido Mantega, Henrique Meirelles e Dilma Rousseff estavam dizendo sobre retomada da atividade econômica, PIB, comparações com o exterior -assuntos prioritários nas últimas semanas- reduzia-se a inverdades.
Entrou a sorte: jornais, TV e rádios foram muito comedidos no noticiário sobre o fracasso deste ano tão louvado, inclusive por terem embarcado, como sempre, nas interessadas declarações oficiais e nas previsões, todas erradas, dos seus economistas e acadêmicos habituais. E, claro, nas mesmas páginas e programas em que esses oráculos eram desmentidos, lá estavam eles mesmos entrevistados para novas previsões.
Mas, ao menos até ontem, ninguém promoveu a "chefia" de Dilma Rousseff na delegação brasileira em Copenhague. Sua posição sobre os problemas das hidrelétricas no rio Madeira há muito a isolaram de qualquer suposição de interesse seu, por mínimo que fosse, em clima, ambiente, preservação amazônica, e que tais e quintais. Dilma Rousseff foi mandada a Copenhague para liderar, não a delegação, mas as fotos de primeira página e os vídeos de telejornais. Não funcionou. Marina Silva continua detentora do tema mais atual.
Por fim, não resultou bem, no primeiro momento, a terceira artimanha de Lula nos últimos dias. O pedido de uma lista tríplice do PMDB para escolher o vice na chapa de Dilma é, claro, o primeiro passo para impor o nome preferido. Seja obtendo sua inclusão entre os três, seja manobrando para excluí-los e entrar com o desejado como proposta conciliadora. Lula ainda tem o que pagar pelos acordos, com participação até da embaixadora dos EUA em 2002, que entregaram o Banco Central e a plena independência de ação a Henrique Meirelles.
Lula já falou vezes incontáveis "ao povo" sem recorrer ao chamado baixo calão. Sabe muito bem que a sua comunicação "popular" não precisa disso. Ao fazê-lo no Maranhão, em discurso sem importância alguma, a gratuidade do recurso mal teve tempo de provocar curiosidade. Lula deu logo a pista, ao criticar a imprensa que faz exatamente o que ele mais deseja: "Amanhã os jornais vão dizer "Lula falou palavrão", os comentaristas vão dizer (...)" -era isso que queria, já provocava com ares de desafio.
Lula jogou mais uma vez na surpresa, mas foi o surpreendido. Ou porque os jornais atentassem para o truque, ou porque a vulgaridade transforma o palavrão em palavrinha. "O Globo" até já causou um terremoto na memória do sempre elegante Roberto Marinho, com a mesma palavra de Lula usada em volumosa manchete de primeira página. Mas, como a maior qualidade de Lula é ter a companhia de uma sorte incomum, sua frustração ficou reduzida.
A utilidade do palavrão seria provocar um pequeno escândalo e desviar o interesse jornalístico por um assunto muito desgastante. É que o IBGE está obrigado, no governo Lula, a mandar para a Presidência da República, antes de divulgar, todas as pesquisas e os estudos. Com isso, o governo tem tempo, em casos negativos, de preparar evasivas, neutralizar o Congresso e buscar a colaboração dos seus nos meios de comunicação. Na véspera da viagem, a Presidência foi informada de que tudo o que Lula, Guido Mantega, Henrique Meirelles e Dilma Rousseff estavam dizendo sobre retomada da atividade econômica, PIB, comparações com o exterior -assuntos prioritários nas últimas semanas- reduzia-se a inverdades.
Entrou a sorte: jornais, TV e rádios foram muito comedidos no noticiário sobre o fracasso deste ano tão louvado, inclusive por terem embarcado, como sempre, nas interessadas declarações oficiais e nas previsões, todas erradas, dos seus economistas e acadêmicos habituais. E, claro, nas mesmas páginas e programas em que esses oráculos eram desmentidos, lá estavam eles mesmos entrevistados para novas previsões.
Mas, ao menos até ontem, ninguém promoveu a "chefia" de Dilma Rousseff na delegação brasileira em Copenhague. Sua posição sobre os problemas das hidrelétricas no rio Madeira há muito a isolaram de qualquer suposição de interesse seu, por mínimo que fosse, em clima, ambiente, preservação amazônica, e que tais e quintais. Dilma Rousseff foi mandada a Copenhague para liderar, não a delegação, mas as fotos de primeira página e os vídeos de telejornais. Não funcionou. Marina Silva continua detentora do tema mais atual.
Por fim, não resultou bem, no primeiro momento, a terceira artimanha de Lula nos últimos dias. O pedido de uma lista tríplice do PMDB para escolher o vice na chapa de Dilma é, claro, o primeiro passo para impor o nome preferido. Seja obtendo sua inclusão entre os três, seja manobrando para excluí-los e entrar com o desejado como proposta conciliadora. Lula ainda tem o que pagar pelos acordos, com participação até da embaixadora dos EUA em 2002, que entregaram o Banco Central e a plena independência de ação a Henrique Meirelles.
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