FOLHA DE SÃO PAULO - 21/11/09
RIO DE JANEIRO - Nos anos 50, tempos de Oscarito, Eliana e José Lewgoy, os filmes brasileiros tinham cláusulas quase obrigatórias: números musicais com Emilinha Borba e Ivon Curi, bandido internacional hospedado no Copa, passeio de carro pela orla, sequência de briga na boate e, em meio aos créditos -que, então, vinham no começo-, a lista de agradecimentos ao comércio, que cedera acessórios para os cenários.
A lista volta e meia incluía a Galeria Silvestre, que comparecera com lustres e abajures; a Casa Neno, com um fogão e um ventilador; o Dragão da rua Larga, com panelas e caçarolas; Sayonara Cabeleireiros, que penteara e fizera as unhas da vilã; a Spaghettilândia, que fornecera pizzas-brotinho para a equipe; o português José Moita, taxista da praça Mauá, que transportara o galã entre o estúdio em São Cristóvão e a locação em Jacarepaguá; e outros.
Eram parcerias inocentes. O comerciante ficava feliz com o nome de sua firma na tela, embora durasse dois segundos, mal dava tempo de ler. Talvez vendesse uma ou duas mariolas a mais, e só. Não era um big negócio.
Meio século depois, o cinema nacional continua precisando dessas colaborações. Para fazer um filme, o produtor leva anos passando o chapéu, só que, agora, em busca de dinheiro vivo. É uma luta dramática e desgastante, e o nome disso é "captação". Em troca, há as "leis de incentivo": o patrocinador ganha isenções, deixa de pagar impostos e ainda tem o nome na tela como benfeitor da cultura.
O filme "Lula, o Filho do Brasil" nem precisou lutar. Estatais, ministérios, bancos públicos, mineradoras, empreiteiras, montadoras, frigoríficos, fabricantes de cerveja, de cigarros etc. se atiraram à passagem do chapéu e até dispensaram as leis de incentivo. E cada "doador" lucrará mais do que duas mariolas.
RIO DE JANEIRO - Nos anos 50, tempos de Oscarito, Eliana e José Lewgoy, os filmes brasileiros tinham cláusulas quase obrigatórias: números musicais com Emilinha Borba e Ivon Curi, bandido internacional hospedado no Copa, passeio de carro pela orla, sequência de briga na boate e, em meio aos créditos -que, então, vinham no começo-, a lista de agradecimentos ao comércio, que cedera acessórios para os cenários.
A lista volta e meia incluía a Galeria Silvestre, que comparecera com lustres e abajures; a Casa Neno, com um fogão e um ventilador; o Dragão da rua Larga, com panelas e caçarolas; Sayonara Cabeleireiros, que penteara e fizera as unhas da vilã; a Spaghettilândia, que fornecera pizzas-brotinho para a equipe; o português José Moita, taxista da praça Mauá, que transportara o galã entre o estúdio em São Cristóvão e a locação em Jacarepaguá; e outros.
Eram parcerias inocentes. O comerciante ficava feliz com o nome de sua firma na tela, embora durasse dois segundos, mal dava tempo de ler. Talvez vendesse uma ou duas mariolas a mais, e só. Não era um big negócio.
Meio século depois, o cinema nacional continua precisando dessas colaborações. Para fazer um filme, o produtor leva anos passando o chapéu, só que, agora, em busca de dinheiro vivo. É uma luta dramática e desgastante, e o nome disso é "captação". Em troca, há as "leis de incentivo": o patrocinador ganha isenções, deixa de pagar impostos e ainda tem o nome na tela como benfeitor da cultura.
O filme "Lula, o Filho do Brasil" nem precisou lutar. Estatais, ministérios, bancos públicos, mineradoras, empreiteiras, montadoras, frigoríficos, fabricantes de cerveja, de cigarros etc. se atiraram à passagem do chapéu e até dispensaram as leis de incentivo. E cada "doador" lucrará mais do que duas mariolas.
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